Vitor Praciano
#690206 Há pouco tempo descobri que eu passei muitos anos sem saber lidar com a paixonite dos amigos da adolescência e o ciúmes que eu provocava nas amigas.

Elas estavam sempre invejadas com as declarações e as cartas que eu recebia, viviam me dizendo que eu era ruim por continuar os enganando com meu silêncio. Em minha inocência de 13 anos (numa época em que ainda existia), eu não queria romper com a amizade deles, mas não estava pronta para para retribuir as paqueras, ainda que secretamente gostasse de ser admirada. Certa vez, houve uma eleição e eu ganhei como a aluna mais bonita e isso me envaidecia, só isso, não havia malícia.

Tive que admitir à contragosto que eu chamava atenção por conta da aparência física, apesar de sempre ter me esforçado para ter um bom desempenho nos estudos e na minha profissão.
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Essa é Florence Colgate, uma estudante de 18 anos que foi escolhida, por meio de um concurso, "o rosto feminino mais próximo da perfeição" no Reino Unido


Pela minha timidez, eu sempre achei mais fácil lidar com os homens, e tinha dificuldade em me comunicar, nunca andei em grandes grupos ou procurei ser o centro das atenções. De alguma forma, meus amigos homens sempre foram muito mais gentis comigo do que as amigas que não facilitavam muito minha vida. Nunca me relacionei com nenhum deles, além da amizade, minha única paixão era o vôlei e nem pensava em namorar.

Este assédio todo em volta das minhas “qualidades físicas” fazia com que eu me dedicasse ainda mais aos estudos. Nutria certo preconceito contra meninas que eram apenas bonitas e não tinham conteúdo e para mim era importante ser vista também como inteligente. O fato é que havia algo em mim que exercia fascínio nos meninos e afastava (mesmo contra minha vontade) as meninas.

Hoje entendo o motivo: eu tenho Capital Erótico.

Quando amadureci meu interesse pela moda, percebi que a beleza me fascinava, me tornei consultora de moda e comecei a pesquisar o que estava por trás desse magnetismo exercido por modelos e atrizes além da fortuna que gira em torno da indústria da beleza que pode incluir desde o universo hollywoodiano passando pelas estrelas pornos e atingindo qualquer pessoa comum, bonita ou não.

Outros tipos de atrativos já haviam sido estudados por sociólogos, economistas e pesquisadores do comportamento humano:

1. O capital financeiro: o quanto você tem;
2. O capital humano: o quanto você sabe;
3. O capital social: quem você conhece.

O capital erótico, termo usado pela socióloga inglesa Catherine Halkin, analisa um conjunto de elementos físicos e habilidades sociais que fazem parte do patrimônio de cada pessoa e que apesar de terem sido nomeados apenas agora, sempre existiram e há muito são utilizados, principalmente pela indústria da beleza e do entretenimento. O que poucos notam, admitem ou aprovam é que o Capital Erótico dá vantagem também em muitas outras áreas da vida.

Pense um pouco, quantas pessoas ao seu redor são realmente capazes de te atrair, desviar o seu olhar, te envolver, ganhar naturalmente a sua atenção a ponto de fazer com que você queira se aproximar, saber mais a respeito? Pouquíssimas.

Pessoas atraentes se destacam, são notadas e somos atraídas por elas. E se eu te dissesse que o Capital Erótico (goste ou não) é tão capaz quanto os outros três de abrir portas, conseguir um emprego, mudar de cargo, enriquecer?

O capital erótico é composto de elementos físicos e sociais.

Os elementos físicos são:

1. Beleza rara


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É um elemento estático, que as câmeras podem capturar, uma harmonia de traços faciais e corporais que por sua simetria cria uma impressão agradável e positiva.

Pensem em um menina de nariz grande, alta, muito magra, que anda de um jeito estranho. Agora imaginem que ela é também loira de cabelos levemente ondulados e esvoaçantes e com olhos verdes. Um olheiro conseguiu captar algo além daquela fisionomia incomum. Gisele Bündchen tem um poder de atração inigualável ao caminhar pela passarela e fotografar campanhas publicitárias. Nenhuma outra modelo da história alcançou o patamar de fama e fortuna que lhe são atribuídos.

Ela é camaleoa diante das câmeras, está longe de ter uma beleza comum e seria impossível que uma mulher de 1.85 de altura, loira, linda e magra passasse por qualquer um de nós sem ser percebida. Dizem por aí, que ela pode ser a primeira modelo a atingir a casa do bilhão de dólar.

Ninguém coloca a inteligência dela em cheque. Não é necessário, não é da inteligência que ela vive. É da beleza, do magnetismo e do fascínio que exerce nas pessoas.

Qualquer equipe de RH sabe selecionar, ainda que seja proibido por lei, candidatos ao trabalho de recepção e contato direto com público que tenham esse elemento do Capital Erótico de destaque.

2. Sensualidade

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É aquela ginga que Vinícius de Moraes identificou na garota de Ipanema, uma certa mobilidade que instiga o desejo, uma maneira de olhar, caminhar e agir que hipnotiza os outros. Exige movimento para ser capturada.

Lembram da campanha feita por uma cervejaria no twitter das tchecas que viriam ao Brasil? Elas passaram meses preparando o coração de marmanjos de toda internet com frases picantes, vídeos provocadores, trocadilhos sapecas para envolver e cativar os desavisados numa jornada de conquista.

O apelo aparentemente inocente era “brasileiros, nos ajudem!”. Foi uma campanha publicitária de sucesso por um único ponto, a sensualidade das duas era inegável. Fossem duas tchecas sem sal ou açúcar e poucas pessoas teriam se movido fervorosamente naquela direção.

3. Visual

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Johnny Depp e seu desleixo minimamente premeditado


Altura, porte, postura aliados aos trajes e estilo na hora de se vestir compõe esse item que se aliam com acessórios como relógios, corte de cabelo, barba, perfumes e maquiagem (para as mulheres). O que é que tem Johnny Depp que faz mulheres suspirarem mundo afora?

Estilo.

Isso fica claro dentro e fora das telas. A escolha de seus personagens é bem detalhista em sua obsessão pelo impacto visual que terá sobre seu público cativo. Quem não se lembra dos memoráveis Edward “mãos de tesoura”, Don Juan de Marco, o Chapeleiro Maluco de Alice, a nova versão de Willy Wonka, Sweeney Todd, Jack Sparrow de Piratas do Caribe e até do vampiro no recém lançado Dark Shadows?

Ele sempre causa furor em cada aparição pública com seu estilo único e irreverente. Não acho que as combinações inusitadas sejam obra do acaso, Johnny Depp parece pensar em cada detalhe do seu traje antes de mostrar a cara e o objetivo é causar impacto. Ele tem personalidade, banca o impacto visual de suas escolha e isso atrai.

4. Sexualidade

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Sharon Stone cruza as pernas como quem não quer nada

A confiança que o cafajeste (ou a femme fatale) insinua se apoia na grande capacidade de dar e receber prazer entre quatro paredes. A pegada masculina ou o rebolado feminino aliados à muita criatividade, fôlego e malícia sinalizam uma alta performance. Esse atributo faz parte da intimidade do casal e apenas ali pode ser medido e avaliado com precisão.

É grande a lista de personagens do cinema que foram conhecidos por esse “dom”: Sharon Stone, no filme Instinto Selvagem cumpre bem essa promessa de atrair, domesticar e executar seus parceiros com o sexo “selvagem”. Mickey Rourke, o ex-bonitão de 9 ½ Semanas de Amor, levou a personagem de Kim Besinger à loucura com suas artimanhas sexuais.

Robert Redford no filme Proposta Indecente arrancou suspiros contrariados das mulheres na década de 90 que confessavam resmungando docemente que trocariam de lugar com a personagem de Demi Moore para ter uma noite tórrida de amor com o milionário mesmo sem a proposta de 1 milhão de dólares.

O mito do “teste do sofá” nos dá uma pista de que muitas negociações começam nas paredes frias de grandes empresas e podem terminar exitosamente em lençois secretos. Concordando ou não com a ética implicada nisso ela faz parte do mundo dos negócios.

As habilidades sociais são:

5. Carisma

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O Obama é daora, o Obama é descolado

Graça, charme, habilidades na interação com as pessoas, capacidade de fazer as pessoas gostarem de você, sentirem-se confortáveis e felizes na sua presença.

Barack Obama não ganhou as eleições norte-americanas por seu diploma em Harvard. Competência é pré-requisito. Obama tem um aura de simpatia, um sorriso acolhedor, um bom-humor cativante. Se dispõe a dançar em programas de TV, comer hot-dogs em público, assistir jogos de basquete, enfim, agir como cidadão comum.

Isso cria empatia nas pessoas e aproxima, ou seja, por nos identificar à uma pessoa que assume um cargo incomum por meio de atributos ordinários que trazem uma leveza contagiante.

A pessoa carismática causa um fascínio, temos vontade de acompanhar cada passo, gesto e palavra dela com uma adoração cega por sentir algo grandioso.

6. Vivacidade

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Hebe Camargo, 80 e sei lá quantos anos de pura vivacidade

Basta um movimento ou misto de interações socias para essa pessoa prender sua atenção por horas, afinal ela une um misto de forma física, energia e bom humor. É aquele cara que todos gostam de ver animando a festa. É aquela pessoa que chega naturalmente e rouba a atenção de todos.

Você não vai poder negar que em algum momento da vida já não quis estar perto daquela mulher idosa de 83 anos, cabelos loiros cheios de laque, com um sotaque interiorano ao som de “Grachinha!”. Hebe Camargo é quase uma unanimidade no que se refere a bem querência.

Alguns podem questionar a qualidade do seu trabalho, mas tudo o que ela conquistou tem muito a ver com sua vitalidade, riso largo e bom humor. Ela é magnética ao falar, tocar e direcionar seu brilho nos olhos e grandes marcas querem emprestar essa vivacidade aos seus produtos e atingir o seu público-alvo. Hebe sempre fez sucesso pelo seu capital erótico, afinal ela também sustenta uma beleza madura invejável.

No mundo do entretenimento, o Capital Erótico desbanca todos os outros.

Agora, pense em um ambiente de trabalho onde todos se vestem mais ou menos de maneira igual, sem criatividade, ou em um ambiente onde uniforme é obrigação. Aquele ou aquela que encontrar uma maneira de se sobressair, ganha ou não destaque? Passa a ser notado (a) ou não?

Quando morei na Itália, deixei uma marca ao dar aulas de inglês para a Polícia Militar Italiana por me destacar das outras três professoras de origem anglo-saxã. O fetiche da mulher brasileira ocasionou uma dezena de homens se pendurando literalmente nas janelas esperando para saber quem era aquela professora simpática e com sorriso largo.

Onde quer que se vá, as pessoas falam do bom gosto estético e das habilidades em se diferenciar. Há que se adequar estilo, personalidade, boa educação e simpatia à competência, até porque beleza e inteligência não são excludentes.

É importante dizer que esses elementos do capital erótico são valorados de forma distinta em culturas diferentes, e em ambientes diversos. Inegável é o fato de que uma pessoa que possui o capital erótico aliado a um dos demais capitais tomar a dianteira.

Os que são muito dotados de outros capitais como a inteligência prodigiosa costumam tratar o capital erótico como um bem “menor”, pois afinal vem de berço e parece sempre associada à futilidade e falta de esforço. Mas o conceito de Capital Erótico deixou claro (ainda que se contrarie o idealismo de alguns) que mesmo a beleza física demanda um trabalho, esforço e aperfeiçoamento constantes.

Se tem alguém aí pensando que é desafortunado por não ter capital erótico e quer romper o preconceito tenho uma boa notícia: Capital Erótico se aprende, se aprimora e se desenvolve. Todos podemos!

Créditos: papodehomem