Aqui é aonde Arquivamos as discussões e debates do PUABASE.
Apenas Membros VIPS
Organização sempre!

Criador do tópico

CDH

Aprendiz

#906829 Publicado em: http://codigodoshomens.com

Imagem

Não fale palavrão, não se expresse com gírias, não use expressões em inglês, não fale muito rápido, não fale devagar, não passe em frente da projeção. O que não falta é "não". O problema é que os conselhos que deveriam alertar para o uso exagerado ou inadequado dessas expressões, ou maneira de falar, acabam se transformando em regras que são verdadeiras mordaças de comportamento.

E o pior é que quem adota esse comportamento fica perplexo ao se deparar com alguém que transgride essas regras e mesmo assim continua agradando e fazendo sucesso. Mas se disseram que agir assim era errado, como é que ele não obedece às regras e consegue se sair bem com a comunicação?

Vamos analisar cada uma dessas questões e verificar em que circunstâncias as regrinhas podem não valer: às vezes, a diferença, o charme, o brilho reside exatamente na maneira apropriada de sair do lugar comum.

Não fale muito rápido

Falar rápido é uma preocupação que aparece com freqüência entre as pessoas que procuram o nosso curso de expressão verbal.
- Polito - dizem os alunos -, eu falo muito rápido, preciso aprender a falar mais devagar.
- Você conseguiria falar mais lentamente, sem sentir que está violentando suas características?
- Não. Não consigo porque penso muito rápido e, se não falar depressa, começo a ter dificuldade para concatenar as idéias.
Se uma pessoa com essas características sentir que a mudança trará prejuízos para a qualidade da comunicação, deve permanecer como está, apenas precisará aprender a usar as técnicas apropriadas para sua condição.

Tenha boa dicção

Pronunciar bem as palavras, desde que com naturalidade, deve ser um anseio de todas as pessoas. Quanto melhor for a dicção, mais facilmente os ouvintes compreenderão a mensagem e maior será a demonstração de preparo, já que se deduz, pela maneira correta de dizer as palavras, tratar-se de alguém que teve boa formação, boa educação e, portanto, tem mais autoridade para abordar o assunto que expõe.
Para quem fala rápido, essa preocupação deve ser redobrada, pois, se pronunciar muito bem a palavras, mesmo falando depressa, os ouvintes ainda assim poderão compreender a mensagem.

Para aprender a pronunciar bem as palavras e melhorar a dicção, sugiro que procure a ajuda de um fonoaudiólogo. Entretanto, se, por algum motivo, não puder recorrer a seu auxílio, comece fazendo exercícios de leitura em voz alta pondo um obstáculo na boca, como o dedo indicador dobrado preso pelos dentes.

Faça pausa no final da informação

A pausa é um dos maiores indicadores de naturalidade na comunicação. Valoriza a informação transmitida e permite que os ouvintes reflitam sobre o que foi comunicado. Fazendo pausas sempre que o pensamento tiver sido concluído, mesmo falando rápido, estará dando oportunidade para que pensem sobre o que foi transmitido, ampliando assim a chance de compreensão.

Repita as informações importantes

Quem fala rápido deve desenvolver o hábito de repetir as informações importantes, usando palavras diferentes. Desta maneira estará dando outra oportunidade para que o ouvinte compreenda a mensagem. Se ele não entendeu na primeira vez, poderá entender na segunda e, em casos especiais, até na terceira. Assim, pronunciando bem as palavras, fazendo a pausa no final do pensamento e repetindo as informações importantes com palavras diferentes, poderá transformar a característica de falar rápido em um estilo positivo de comunicação.

Não fale devagar

Outros me procuram lamentando-se porque falam muito lentamente.

- Polito - disse-me um aluno com voz desacorçoada -, eu falo tão devagar que quando dou uma entrevista em uma emissora de rádio o ouvinte muda de estação imaginando que o programa saiu do ar.

- Muito bem. Então veja se consegue falar um pouco mais depressa.

- Ah, eu não consigo. Porque quando estou fazendo apresentação de um tema, gosto de planejar bem toda a linha de argumentação e verificar com antecedência se os ouvintes levantarão objeções. Se concluir que elas aparecerão, preparo antes também a refutação.

- Com esse perfeccionismo você jamais terá condições de falar mais rápido, pois estaria agredindo seu jeito de se expressar.

Se você fala devagar e, naturalmente, não consegue se comunicar mais rápido, continue agindo assim, mas passe a aplicar as técnicas próprias para sua característica.
Mantenha a comunicação visual

Em uma apresentação para um grupo de pessoas, precisamos olhar para os ouvintes. Com essa atitude sabemos como as pessoas estão reagindo à mensagem, fazemos com que se sintam incluídas no ambiente e prestigiadas pelo fato de olharmos em sua direção.
Quem fala devagar, principalmente durante as pausas, precisa continuar olhando para os ouvintes, impedindo assim que a linha de comunicação se desfaça.

Volte a falar com mais ênfase

Especialmente depois das pausas mais prolongadas, volte a falar com mais energia, com mais ênfase. Com essa atitude demonstrará que naqueles instantes de silêncio estava optando pelas melhores idéias e organizando a ordem das informações, e não tinha agido assim porque as palavras haviam desaparecido.
Use a inflexão de voz apropriada

Um erro comum, e que se torna mais grave em quem fala devagar, é usar uma inflexão de voz de conclusão no meio da frase, ou de continuidade no final. Observe se você também apresenta essa falha e faça a correção.

Uma boa forma de verificar que tipo de inflexão de voz está utilizando é gravar algumas de suas conversas ao telefone. Se perceber que, no final da frase, está dando a impressão de que continuará transmitindo a mesma informação, ou que no meio já a está concluindo, vá fazendo os ajustes até acertar.

Assim, mantendo a comunicação visual com os ouvintes, voltando a falar com mais ênfase depois das pausas prolongadas e usando a inflexão da voz apropriada para a continuidade e para a conclusão da frase, poderá transformar a característica de falar devagar em um estilo positivo de comunicação.
Não fale palavrão

Se existe uma boa maneira de comprometer a qualidade da comunicação é o uso de palavras vulgares, chulas, palavrões em público. Pode ser até que algumas pessoas que estão na platéia riam, mas a imagem de quem fala estará indo para o ralo.

Entretanto, em algumas circunstâncias, o palavrão até que é bem-vindo. Numa roda de amigos, por exemplo, ao contar uma piada - algumas piadas não têm a menor graça se não forem acompanhadas de um palavrãozinho -, mas ali, no convívio mais íntimo.

No ambiente de trabalho, quando uma tarefa importante precisa ser executada e o chefe percebe (depois de pedir com muita insistência que o grupo acelere o passo) que todos continuam na mesma moleza, um palavrão bem aplicado poderá até funcionar mais do que todas as técnicas administrativas.

Conheço também consultores que usam alguns palavrões de maneira tão espontânea que nunca chegam a agredir a platéia, e fazem desse jeito de se expressar uma característica que fica bem para sua comunicação. Portanto, palavrão, de maneira geral, deve ser evitado, mas em determinadas circunstâncias pode até ser positivo. Use o bom senso, coloque-se no lugar do ouvinte e saberá se naquela circunstância a regra poderia ser quebrada.

Não se expresse com gírias

Assim como o palavrão, embora com intensidade menor, o uso da gíria também poderá comprometer a qualidade da comunicação e prejudicar a imagem de quem fala.

Da mesma maneira aqui precisamos tomar cuidado com a mordaça que a regra nos impõe. A gíria, quando usada de maneira inteligente, nas circunstâncias em que a pessoa demonstra aos ouvintes que a utiliza de forma consciente, poderá ser útil para o resultado da comunicação, pois promoverá uma aproximação com o grupo, possibilitando ainda uma espécie de cumplicidade com a platéia.

Por exemplo, alguém com mais de 40 anos, diante de um grupo de adolescentes, se lá no meio da exposição fizer uso de uma gíria, poderá conquistar a simpatia do grupo.

Essa atitude estaria significando mais ou menos o seguinte: eu sei que eu sou bem mais velho do que vocês, tenho consciência de que todos perceberam com facilidade essa diferença de idade, sou de outra geração, mas ainda acompanho a maneira como se expressam. E o fato de ter usado essa gíria, embora não faça parte do meu vocabulário normal, demonstra que me sinto bem aqui.

Não use expressões em inglês

De uns tempos para cá ocorreram alguns fenômenos interessantes com a língua portuguesa: com a globalização e a abertura do mercado brasileiro, o número de organizações estrangeiras no nosso país aumentou de maneira acentuada, e esse foi um terreno propício para que os executivos e os funcionários, de forma quase generalizada, passassem a usar expressões de outras línguas, principalmente o inglês.

O número crescente de computadores que trazem muitas palavras em inglês contribuiu para que essa prática fosse ampliada. A chegada da TV a cabo com transmissão de inúmeros programas em outro idioma reforçou ainda mais esse hábito.
As empresas, nacionais ou estrangeiras, passaram a exigir que todos os funcionários soubessem inglês. Desta forma, se não aprendessem nas matérias dos cursos regulares, deveriam procurar escolas especializadas para suprir essa lacuna. Assim, em pouco tempo, boa parcela da população brasileira passou a saber falar inglês.

A facilidade oferecida pelas agências de viagens para o turismo em outros países fez com que as pessoas descobrissem que, para aproveitar melhor o passeio, seria necessário aprender bem outra língua. Surgiram, então, os puristas da língua censurando quem incluísse algumas expressões em inglês nas suas apresentações. Esse contingente, engrossado por aqueles que não sabem falar inglês, promoveu uma verdadeira caça às bruxas - falou em inglês está condenado.

Precisamos analisar, em primeiro lugar, a cultura, o hábito do grupo para o qual estamos falando. Se as pessoas estiverem acostumadas a se expressar assim, não há nenhum mal que sejam utilizadas algumas palavras em inglês. Entretanto, se o grupo não possuir essa característica, o seu uso deve ser evitado.

Tenho treinado com muita freqüência executivos de empresas que atuam no ramo de informática e telecomunicação, e todos, sem exceção, se expressam com alguns termos em inglês, e o grupo aceita a prática com naturalidade.

A precaução que se deve ter é com a pronúncia correta da palavra e com a escolha de expressões que não tenham uma correspondência à altura na nossa língua. A imagem de uma pessoa fica prejudicada quando se propõe a usar palavras em outro idioma e as pronuncia de maneira incorreta. Acaba não falando na sua própria língua e praticando mal a outra.

Se decidir usar algumas expressões em inglês, dê preferência àquelas que não podem ser substituídas com o mesmo sentido, como é o caso de feedback e approach.

Não passe em frente da projeção

Quando uma empresa me contrata para dar treinamento aos seus executivos e pedem atenção especial para ensinar o uso correto de recursos audiovisuais, quase que invariavelmente dizem:

- Polito, ensine a esses cabeças-duras que não devem passar em frente da luz da projeção.

Surgiram no passado, há um bom tempo, alguns cursos destinados a ensinar o uso correto de recursos audiovisuais. Na verdade só visuais, porque naquela época o videoteipe estava começando a aparecer e o que existia de mais moderno era o - hoje desatualizado - retroprojetor.

Talvez pela necessidade de sistematizar todas as orientações, apresentaram uma com grande destaque, tanto que acabou virando regra permanente - quando estiver usando o retroprojetor, não passe em frente da luz de projeção.
Pronto. O pessoal aprendeu, e a regrinha se espalhou como praga. Hoje todo mundo sabe que não se deve passar em frente do retroprojetor durante a projeção. Mas aí está um ensinamento que, em algumas circunstâncias, mais atrapalha do que ajuda.

Tenho visto alguns oradores que, querendo aplicar corretamente a técnica, para pegar um objeto qualquer que está do outro lado do aparelho, só para não passar em frente da luz de projeção (hoje dos projetores multimídia), dão uma verdadeira volta ao mundo, sem perceber o risco que estão correndo de quebrar o ritmo da apresentação.

Seria muito mais simples passar em frente da luz de projeção - se esse fato ocorresse uma vez ou outra, não haveria nenhum prejuízo para a exposição. Já que estamos falando em regrinhas para projeção, uma outra, que surgiu também naquela época, foi a que ensinava aos oradores não projetar vários itens de uma relação ao mesmo tempo, pois enquanto estivessem comentando o primeiro, ou o segundo, os ouvintes estariam lendo e tentando entender o que seria desenvolvido a partir do nono ou do décimo.

Tem lógica. Mas apenas quando os itens tiverem uma importância própria, independente, dentro da mensagem. Entretanto, quando forem interligados, interdependentes, é mais vantajoso projetá-los ao mesmo tempo, pois os ouvintes têm assim uma idéia do conjunto e podem acompanhar com mais facilidade a linha de raciocínio.

Quer mais uma do velho e bom retroprojetor?

Diz a regra (lembrando sempre que é ainda da mesma safra que as anteriores) que, ao trocar a transparência, deve-se apagar a luz de projeção, para que o movimento das mãos e das lâminas entrando e saindo não seja projetado. E assim tem sido de lá para cá. A cada troca de transparência, ouve-se o "tec tec" de ligar e desligar o aparelho.

O orador só se dá conta de que esse procedimento é irritante quando o chefe está na platéia e, em voz alta, ordena que pare com essa história chata de ligar e desligar o aparelho.

Quando a projeção de uma lâmina é um pouco mais demorada - 2 a 3 minutos -, justifica-se o fato de ligar e desligar o aparelho, até como forma de mudar o foco de atenção do ouvinte, pois, quando ele se concentra por muito tempo em uma única imagem ou informação, pode começar a desviar o pensamento.

Todavia, quando a projeção de uma lâmina é muito rápida, por volta de um minuto, é recomendável que a troca seja efetuada com o aparelho ligado.

Todas essas considerações nos levam a uma conclusão: as regras são úteis quando servem para nos ajudar, para nos auxiliar, mas devem ser modificadas ou afastadas quando nos escravizam e prejudicam a qualidade da nossa comunicação. Seja o seu próprio juiz e decida em que circunstância deverá quebrar as regras. Tome cuidado, entretanto, para não fazer da quebra das regras uma regra, pois algumas são muito boas.

Autor: Reinaldo Polito
Fonte: Revista Vencer nº 19