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Rafa el

#832212 Possivelmente esse artigo será excluído, porém resolvi arriscar. Não podemos aceitar tudo, sem nenhum tipo de crítica. A PNL já me ajudou muito, porém, esta tem o seu lado negro que todos deveriam saber.
Segue um trecho do livro Jardim das Aflições, que fala por si.

A PNL surgiu da prática clínica de um dos grandes psicoterapeutas do século: Milton Erickson. Paralítico, Erickson desenvolveu, talvez em compensação, uma acuidade sensitiva fora do normal, que lhe permitia captar, nas pessoas em torno, sutilíssimas mudanças do tom de voz, da temperatura corporal, do tônus muscular, da direção do olhar. Interpretando esses sinais espontâneos, ele conseguia comunicar-se com seus pacientes numa faixa que ia muito além do conteúdo verbal explícito, e com isto obtinha resultados espetaculares em doentes que haviam sido desenganados por outros psicoterapeutas, particularmente em tipos esquizóides com uma comunicação verbal deficiente. Erickson era um clínico, um tipo prático; nunca escreveu um livro nem se preocupou em sistematizar suas descobertas. Este trabalho foi feito por dois pesquisadores, Richard Bandler e John Grinder, que estavam investigando psicologia da comunicação quando toparam com o fenômeno Erickson. Bastava observá-lo em ação para notar que a comunicação verbal, longe de constituir um todo autônomo, se apoiava numa rede complexa de sinais não-verbais, sem cujo auxílio a fala se mostrava impotente para atingir o íntimo das pessoas. Só que na vida diária esses sinais, profundamente arraigados nos hábitos e convenções da comunicação humana, ficavam subentendidos e acabavam por se tornar, na prática, inteiramente automatizados e inconscientes. Eles estavam lá sempre, ajudando ou atrapalhando a conversa, mas ninguém reparava na sua presença. Erickson percebeu que o fracasso ou sucesso da comunicação pessoal dependia deles; utilizando-os, conseguiu romper a barreira de incomunicabilidade, abrindo à psicoterapia as mais belas esperanças de cura para casos tidos por insolúveis.
Bandler e Grinder gravaram centenas de sessões psicoterapêuticas de Erickson (bem como de outros dois magos da clínica psicológica, Gregory Bateson e Virginia Satir); com o auxílio de um computador, codificaram todos os sinais, sistematizaram a técnica da comunicação não-verbal e, batizando-a PNL (em inglês, NLP), transformaram-na em produto comercializável. Mas não se restringiram a um público de psicoterapeutas. Desbravaram novos mercados: venderam a técnica para executivos que tencionavam persuadir seus chefes a lhes dar aumentos imerecidos, vendedores ansiosos de livrar-se de estoques encalhados, advogados desejosos de persuadir juizes a assinarem sentenças injustas, políticos decididos a iludir seus eleitores, mari- dos interessados em enganar suas mulheres etc. etc. Bandler e Grinder ganharam rios de dinheiro explorando as descobertas de Erickson, transformadas num receituário de maquiavelismo psicológico para uso popular. Mas Erickson, a essa altura já falecido, não pôde enviar do intermundo qualquer sinal verbal ou não-verbal de uma justa indignação. Nos EUA, a coisa virou uma paixão nacional. Uma revista norte-americana chamou a PNL “a nova mania psicológica pop ”. Milhares de centros de treinamento espalharam-se de costa a costa — e, em breve, a técnica de induzir subliminarmente por sinais não-verbais tornou-se, em muitas empresas, clubes, associações políticas, igrejas e lares, um meio de comunicação de uso corrente. O programador neurolingüístico não perde tempo com argumentações. Ele age direto no subconsciente do freguês, por intermédio de mensagens quase imperceptíveis, introduzindo-as sutilmente no curso de uma conversa qualquer. A vítima, acreditando expressar seus sentimentos espontâneos, vai sendo levada a sentir o que o programador deseja que ela sinta, a fazer o que ele deseja que faça, tal e qual o burro da cenoura, inteiramente persuadida de exercer livremente o seu clinamen . Não vá pensar o leitor que está diante de mais uma poção mágica, de mais um charlatanismo inócuo. A PNL funciona. Centenas de testes feitos em universidades norte-americanas, com o mais rigoroso controle científico, mostraram isso. Os padrões de comunicação não-verbal que ela utiliza são reais, e o uso que faz deles é perfeitamente eficaz. Mas o problema é justamente esse. Como já em 1983 denunciava a revista Science Digest: “Posta no mercado, a técnica da PNL ameaça tornar-se uma temível ferramenta de manipulação pessoal e, nas mãos erradas, um perigoso instrumento de controle social” 50 . Mãos erradas? Nos EUA, segundo informava a mesma revista, a PNL já estava, àquela altura, sendo usada em toda parte para levar pessoas a venderem seus bens a preço vil; para persuadir juizes a absolver culpados e condenar inocentes; para fazer eleitores votarem contra seus próprios interesses, para levar investidores a queimar seus capitais em negócios ostensivamente inviáveis, e assim por diante. O uso habilidoso dos sinais não-verbais permite abrir hiatos na atenção consciente, mudar imperceptivelmente o curso do raciocínio, levar uma pessoa a fazer o que acha errado, a comprar o que não quer, a aprovar o que lhe repugna. Passadas algumas horas, a vítima pode se dar conta da insensatez, mais aí já é tarde: uma palavra, uma assina- tura, podem ter determinado conseqüências irreversíveis. Isto desmente a consola- dora lenda de que nenhuma hipnose ou manipulação subliminar pode induzir um homem a fazer o que é contra suas convicções; lenda que, se de um lado favorece muito a ação do hipnotizador, levando a vítima a não se precaver contra um risco que supõe inexistir, de outro lado omite o detalhe de que, precisamente, toda influência subliminar consiste em abolir o domínio da vontade, cortando os laços entre a psique individual e os seus quadros de referência moral, sem apoio nos quais não pode o ego tomar posição, julgar, decidir, querer ou desquerer: neutralizada a capa- cidade judicativa e decisória, um homem está à mercê do que lhe sugiram, e pronto a justificar a posteriori a decisão imposta, assumindo-a como sua para restabelecer a ilusória integridade da sua auto-imagem; e, com isto, assume a culpa pelo mal que lhe fizeram. O uso disseminado dessas técnicas arrisca minar todo o campo da convivência humana, legitimando a manipulação subliminar como uma forma normal e corrente de cada homem lidar com o seu próximo, e subvertendo, com isto, todos os padrões de sinceridade, honestidade, solidariedade. Universalizado esse costume, a sociedade inteira estará à mercê de uma horda de manipuladores psicológicos, ansiosos de unlimited power e armados de um temível arsenal de meios para defraudar e colocar a seu serviço os outros homens; e aí, conforme esses neomaquiavéis se unam para dominar o restante da população ou entrem em competição feroz uns com os outros, teremos ou mais a mais perfeita e indestrutível das tiranias ou a anarquia generalizada, a patifaria universal. Assinalando o perigo, a revista Science Digest noticiava, junto com a moda da PNL, também uma onda de protestos e advertências que brotavam contra ela da imprensa, dos meios acadêmicos, dos educadores, dos profissionais de saúde. Isto foi dez anos atrás. Mas foi nos Estados Unidos. Os norte-americanos — malgrado um certo embotamento mais recente, de que tratarei nos capítulos finais deste livro — sabem precaver-se, em geral, contra qualquer coisa que lhes pareça suprimir liberdades duramente conquistadas. No Brasil, a PNL vem abrindo caminho desde então, com a maior desenvoltura e cercada de aplausos, sem que ninguém levante contra ela a menor suspeita, sem que ninguém sequer sugira a possibilidade de haver nela alguma coisa de errado. Os brasileiros estão absorvendo a PNL com o deslumbramento bisonho de um garoto que se sente muito lisonjeado ao ser admitido pela primeira vez numa roda de cocainômanos. Ninguém escapa aos encantos da nova técnica. Aqueles que se têm na conta de místicos enxergam nela uma via de acesso aos mistérios supremos. Os que se gabam de sólido materialismo pão-pão- queijo-queijo vêem-na como um instrumento de poder e ascensão social. Os neuróticos pedem-lhe um meio rápido de obter alívio e os psicoterapeutas uma receita rápida para operar curas espetaculares. Todos confiam que ali só têm a ganhar, e, quando não ganham nada, não faz mal: a PNL tem meios de tornar o prejuízo uma experiência gratificante. Se alguém percebe vagamente que está sendo manipulado pelas costas, tanto melhor: isto confirma a eficácia da nova técnica, dá mais brilho ao seu fascínio e incita a vítima a prosseguir na experiência, seja pela atração do abismo, seja pela ambição de conquistar por sua vez o poder de manipular os outros. Mesmo aqueles que antipatizam com a proposta não dão sinal de perceber nela qualquer perigo. Quando não é recebida como uma mensagem salvadora, ela é ignorada como um charlatanismo inócuo. Assim, protegida pela sonsice dos crentes e pela indiferença blasé e dos descrentes, a PNL vai entrando, vai ganhando força, vai invadindo todos os setores da atividade pública e privada e inoculando ali, em doses crescentes, o vírus da manipulação subliminar. A incapacidade de um povo para perceber os perigos que o ameaçam é um dos sinais mais fortes da depressão autodestrutiva que prenuncia as grandes derrotas sociais. A apatia, a indiferença ante o próprio destino, a concentração das atenções em assuntos secundários acompanhada de total negligência ante os temas essenciais e urgentes, assinalam o torpor da vítima que, antevendo um golpe mais forte do que poderá suportar, se prepara, mediante um reflexo anestésico, para se entregar inerme e semidesmaiada nas mãos do carrasco, como o carneiro que oferece o pescoço à lâmina. Mas quando o torpor não invade somente a alma do povo, quando toma também as mentes dos intelectuais e a voz dos melhores já não se ergue senão para fazer coro à cantilena hipnótica, então se apaga a última esperança de um redespertar da consciência. Aquele a quem os deuses querem destruir, eles primeiro enlouquecem. Quando, num curso de Ética nominalmente votado a objetivos da salvação nacional, intelectuais eminentes oferecem o Tetrafármacon e a PNL como soluções miraculosas, em vez de condená-los como anti-éticos e advertir contra o seu uso, então é que a consciência pública já transpôs a primeira fase do sono, a do mero adormecimento, para cair de cheio na esfera do sonho, de onde só sairá para mergulhar na terceira fase: no sono profundo, sem sonhos. No completo esquecimento.