- 23 Out 2015, 06:38
#963829
3 argumentos de Hume já são suficientes para destruír todo e quasiquer edifícios superticiosos contra o suicídio:
1 Nenhum Homem jogou a vida fora enquanto ainda valia a pena vivê-la.
2 Para a natureza, a vida de um Homem não vale mais que a vida de uma ostra.
3 Ninguém deve prolongar sua vida depois que ela se tornou desonrosa.
A vida de um homem não tem uma importância maior para o universo que a vida de uma ostra: e, se tiver uma importância tão grande, a verdade é que a ordem da natureza humana submeteu-a efectivamente à prudência humana e reduziu-nos a uma necessidade, em qualquer incidente, de decidir a seu respeito.
Mas eu agradeço à providência, tanto pelo bem de que já desfrutei como pelo poder de que estou dotado para escapar aos males que me ameaçam. Só podem queixar-se da providência aqueles que tolamente imaginam não ter tal poder, e precisam de prolongar uma vida detestada, apesar de carregada de dor e de doença, de vergonha e de pobreza.
Se a minha vida não fosse minha, seria para mim um crime colocá-la em perigo, bem como dispor dela; e não mereceria ser chamado herói um homem a quem a glória ou a amizade transportasse para os maiores perigos.
Foi certamente a providência que me colocou neste presente momento neste quarto: mas não poderei deixá-lo quando considerar apropriado sem estar sujeito à imputação de ter abandonado o meu posto ou posição? Quando estiver morto, os princípios de que sou composto continuarão a desempenhar o seu papel no universo, e serão tão úteis na grande fábrica como o eram quando compunham esta criatura individual. A diferença para o todo não será maior que a diferença entre eu estar num quarto e estar ao ar livre. A primeira mudança tem mais importância para mim do que a outra, mas não tem mais importância para o universo. É uma espécie de blasfémia imaginar que qualquer ser criado pode perturbar a ordem do mundo ou invadir os assuntos da providência!
Um homem que se retira da vida não faz qualquer mal à sociedade: só deixa de fazer bem, o que, se é uma injúria, é do género menos grave.
Suponha-se que um malfeitor é condenado justamente a uma morte vergonhosa. Poder-se-á imaginar alguma razão para que ele não possa antecipar o seu castigo, e salvar-se de toda a angústia de pensar nas suas terríveis aproximações? Ele não invade mais os assuntos da providência que o magistrado que ordenou a sua execução; e a sua morte voluntária é igualmente vantajosa para a sociedade, que assim se vê livre de um membro pernicioso.
Acredito que nunca nenhum homem jogou fora a vida enquanto valia a pena mantê-la, pois tal é o nosso horror natural à morte que pequenos motivos nunca serão capazes de nos reconciliar com ela; e embora talvez a situação da saúde ou fortuna de um homem não tenham parecido exigir este remédio, podemos pelo menos estar seguros de que qualquer um que, sem razão aparente, tenha recorrido a ele, estava amaldiçoado com uma depravação ou melancolia de temperamento de tal maneira incurável que tinha de envenenar todo o prazer, e torná-lo igualmente miserável como se estivesse estado tão carregado com o mais doloroso infortúnio.
Se se supõe que o suicídio é um crime, só a cobardia pode impelir-nos para ele. Se não é um crime, tanto a prudência como a coragem devem levar-nos a livrar-nos de vez da existência quando esta se torna um fardo. É só dessa maneira que, então, poderemos ser úteis à sociedade, dando um exemplo que, se fosse imitado, faria qualquer um mantiver a hipótese de ter felicidade na vida e libertá-lo-ia eficazmente de todo o perigo ou miséria
Hume afirma que todos os eventos (...) podem ser ditos ações do Todo Poderoso e todos os eventos são igualmente importantes aos olhos daquele ser infinito, donde se segue que ao cometer suicídio, uma vez que o homem não usa senão as capacidades que Deus lhe concedeu.
Assim, tendo em vista que a providência guiou todas essas causas, e nada ocorre no universo sem o seu consentimento e cooperação, então minha morte voluntária não acontece sem o seu consentimento, uma vez que se incorro no desagrado divino por tirar a minha vida, também incorreria em desagrado ao me desviar de uma árvore que desaba, ou construir casas ou navegar no oceano, pois essas ações visam preservar a minha vida e minha saúde, e, assim, tanto em um caso como em outro, modifico o curso original da natureza. As ações humanas são todas, portanto, igualmente inocentes ou igualmente criminosas.
Eu não cometeria um crime se desviasse o Nilo ou o Danúbio de seu curso, se fosse capaz de realizar tal propósito. Que há de criminoso, então, em desviar gotas de sangue de seus canais naturais?
Não sou obrigado a fazer um pequeno bem para a sociedade à custa de um grande mal para mim mesmo. Porque deveria, então, prolongar uma existência miserável em troca de algumas vantagens frívolas que a coletividade pode talvez receber de mim?
Nietzsche afirmava que "não está em nós impedir nosso nascimento, mas podemos corrigir esse erro: pois às vezes é um erro. Quando alguém se suprime, pratica a coisa mais respeitável que há... Morrer de uma maneira orgulhosa quando não é mais possível viver de uma maneira orgulhosa". Nietzsche criticava a chamada "morte natural", que para ele não existia morte natural, "toda morte é um suicídio". No livro “O viajante e sua sombra” ele incentiva a morte voluntária quando um indivíduo consegue concretizar sua missão a qual ele próprio criou para si. Nietzsche critica o que o cristianismo fez com a consciência das pessoas, enchendo-as de medo e remorso sobre suas ações, as quais poderiam ser punidas após a morte por Deus, e que também só Deus tinha o direito de tirar a vida de alguém.
Então, deveríamos descartar a vida antes que ela decida nos descartar.
A ideia do suicídio é uma grande consolação: ajuda a suportar muitas noites más.
Guardemo-nos de dizer que a morte é oposta à vida. O vivente é somente uma espécie de morto, e uma espécie muito rara.
Schopenhauer - Se a tentativa de suicídio é punida, o que se pune é a falta de habilidade que o fez fracassar.