- 01 Jan 2016, 23:07
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O psicólogo e pesquisador Vitor Muramatsu chama a atenção para o descolamento da realidade implícito nos ensinamentos: "O PUA se baseia na Programação Neurolinguística, que por si só já é um câncer, uma semirreligião. Ela faz um apanhadão de migalhas de teorias dos grandes mestres como Reich, Freud, mistura com Gestalt e hipnose e aplica na reprogramação mental para modelar um comportamento, passar uma tinta. No livro, ele [Eduardo Playtool] diz que para ter sucesso é preciso repetir 'eu sou o cara', 'eu sou foda', 'todas as mulheres querem dar pra mim' para construir uma persona artificial. Quando diz 'Sei que sou foda independente de como as pessoas reagem' você tem uma questão com a relação do feedback do real. Ou você ignora ele ou você absorve e isso tem um efeito na sua personalidade, no seu comportamento".
E dá um exemplo: "Digamos que eu aborde a mulher da padaria e não dê certo. Ou eu absorvo aquilo ou eu blindo aquela rejeição. São duas posturas totalmente diferentes. A primeira é mais humana, dialética, contemplativa e estruturante, cria uma modificação real, te traz para o real e a outra não, você é um pirado. E a tendência é que você se blinde da realidade, porque você se blinda da resposta que ela te traz. Quando ele fala em 'ir para o contato físico' invade a privacidade das pessoas. Os alunos podem entender qualquer coisa dessas instruções. E se não tem limite, podem causar dano para a sociedade ou a si mesmos por viverem em um mundo de loucura, igual jogador viciado. E aí o perigo é estarmos criando uma seita de violadores irrefreáveis".
"Uma coisa é eu autorizar você a falar comigo e a gente começar a flertar. Na rua eu não autorizei, não te conheço e não quero te conhecer. Mas a sociedade autoriza e legitima que um homem aborde uma mulher, porque historicamente o espaço público sempre foi masculino. E é contraditório que antes o espaço público era dos homens e o privado das mulheres mas nem no espaço privado a mulher era respeitada. Ela também sofria –e ainda sofre– violência onde é chamada de 'rainha", explica a antropóloga Izabel Gomes.
Para ela, a raiz de todas as violências –da doméstica ao estupro, do feminicídio ao assédio– é a mesma: "Não tem discurso novo. É violência de gênero, é patriarcado e é condição de não sujeito. Vem tudo da mesma estrutura de dominação. Como os homens podem querer nos manipular, fazer um jogo e vencer etapas para conquistar? Tomar nossa liberdade na rua? Acho que só em um esquema de dominação ainda tão forte e estruturado isso é possível. E aí não dá pra não falar das relações de patriarcado, que tratam a mulher não como sujeito ou, na melhor das hipóteses, como alguém de menor valor. Os avanços das últimas décadas nas leis –temos igualdade na lei salarial, temos uma lei para violência doméstica, temos uma mulher presidente– fazem com que a gente não perceba os retrocessos (Alô Bolsonaro). A impressão que se tem é que por conta desses direitos conquistados não se tem violência contra a mulher e quando tem, a própria mulher é responsabilizada. Nós temos hoje uma mulher sendo estuprada a cada dez minutos no Brasil. Nesse contexto, um curso desse tipo é ainda mais grave" define a antropóloga.
Leia mais em: http://zip.net/bmqtRv
E dá um exemplo: "Digamos que eu aborde a mulher da padaria e não dê certo. Ou eu absorvo aquilo ou eu blindo aquela rejeição. São duas posturas totalmente diferentes. A primeira é mais humana, dialética, contemplativa e estruturante, cria uma modificação real, te traz para o real e a outra não, você é um pirado. E a tendência é que você se blinde da realidade, porque você se blinda da resposta que ela te traz. Quando ele fala em 'ir para o contato físico' invade a privacidade das pessoas. Os alunos podem entender qualquer coisa dessas instruções. E se não tem limite, podem causar dano para a sociedade ou a si mesmos por viverem em um mundo de loucura, igual jogador viciado. E aí o perigo é estarmos criando uma seita de violadores irrefreáveis".
"Uma coisa é eu autorizar você a falar comigo e a gente começar a flertar. Na rua eu não autorizei, não te conheço e não quero te conhecer. Mas a sociedade autoriza e legitima que um homem aborde uma mulher, porque historicamente o espaço público sempre foi masculino. E é contraditório que antes o espaço público era dos homens e o privado das mulheres mas nem no espaço privado a mulher era respeitada. Ela também sofria –e ainda sofre– violência onde é chamada de 'rainha", explica a antropóloga Izabel Gomes.
Para ela, a raiz de todas as violências –da doméstica ao estupro, do feminicídio ao assédio– é a mesma: "Não tem discurso novo. É violência de gênero, é patriarcado e é condição de não sujeito. Vem tudo da mesma estrutura de dominação. Como os homens podem querer nos manipular, fazer um jogo e vencer etapas para conquistar? Tomar nossa liberdade na rua? Acho que só em um esquema de dominação ainda tão forte e estruturado isso é possível. E aí não dá pra não falar das relações de patriarcado, que tratam a mulher não como sujeito ou, na melhor das hipóteses, como alguém de menor valor. Os avanços das últimas décadas nas leis –temos igualdade na lei salarial, temos uma lei para violência doméstica, temos uma mulher presidente– fazem com que a gente não perceba os retrocessos (Alô Bolsonaro). A impressão que se tem é que por conta desses direitos conquistados não se tem violência contra a mulher e quando tem, a própria mulher é responsabilizada. Nós temos hoje uma mulher sendo estuprada a cada dez minutos no Brasil. Nesse contexto, um curso desse tipo é ainda mais grave" define a antropóloga.
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