- 07 Fev 2017, 16:44
#1043763
De uns tempos pra cá, venho me deparando cada vez mais com uma série de perguntas dos mais variados assuntos. Tais como “qual a melhor forma de falar pra minha namorada a respeito do pickup?”, ou “como transformo meu atual relacionamento sério em um RMLP (relacionamento múltiplo de longo prazo)?”.
Então, peguemos como premissa o último exemplo. Em uma sociedade na qual a poligamia é tida como indecorosa, dizer-se claramente praticante de algo que beira à poligamia é - no mínimo - um completo desrespeito à moral.
No entanto, crescemos tão convictos de que a sociedade na qual vivemos foi construída a partir de uma única estrutura plausível, que acabamos nos esquecendo dos “porquês” presentes no mesmo contexto e que nos levaram a pensar dessa forma.
A monogamia surgiu séculos atrás, em circunstâncias nas quais as tribos eram comumente nômades, as mulheres tinham relações com vários homens e as crianças eram criadas pela comunidade. Diante de um quadro no qual era evidente a necessidade de se estabelecer um local fixo para moradia e produção de alimentos, criou-se o que hoje conhecemos como propriedade privada.
Desde então, os donos das respectivas terras se viram diante da necessidade de passarem seus bens somente para seus herdeiros. Para isso, era preciso que as mulheres com as quais tivessem relações permanecessem em casa cuidando de sua prole, para que seus parceiros se certificassem de que somente seus próprios filhos teriam acesso aos seus bens no futuro.
Então, surgiu o que hoje conhecemos como monogamia e toda a história na qual já conhecemos. Por isso, abramos nossas mentes. Os valores que herdamos não passam de bagagem histórica-social. Fomos educados para que moldemos nossa própria natureza instintiva e ocultemos, aos poucos, nossos desejos tidos como “libertinos”. Fomos criados para reproduzir o conteúdo que nos foi ensinado.
Isso não significa que, aos poucos, não consigamos desconstruir o que durante toda a vida nos foi imposto. Tudo só depende do quão dispostos estamos a sermos nós os agentes de mudança.
Será mesmo que nunca passou pela cabeça de ninguém abrir mão de um atual relacionamento para que fosse possível permitir-se ter contato com novas vivências? E se passou, quantos já não foram tomados por uma angustiante sensação de que, caso fossem em busca de novas experiências poderiam acabar sozinhos? Permanecer solitário é, sem dúvida, um dos maiores temores da humanidade.
Vivemos em uma sociedade limitante, na qual, querer para si mais do que os outros à sua volta possuem, até parece pecado. Parentes, amigos, namorada. Uma enorme quantidade de seres capaz de fazer com que você abra mão de suas crenças e desejos para que suas próprias consciências condicionadas não sejam afetadas.
Poucos são os que admitem para si que tudo poderia ser melhor. Que poderíamos viver cada um de nossos prazeres, se não vivêssemos em função dos mesmos, como no epicurismo¹, por exemplo.
Por isso, cabe somente a nós lembrarmos àqueles a nossa volta que a vida deve ser vivida sem medos ou inseguranças em relação às nossas perdas. Sair de um relacionamento monogâmico e caminhar em direção contrária não deve ser sinônimo de utopia, embora difícil. Tudo varia de acordo com nosso próprio ponto de vista. Se realmente acreditamos em algo, com o tempo, nos unimos a quem também partilha do mesmo ideal e, aos poucos, fazemos com que aqueles ao nosso redor passem a entender e concordar conosco.
No entanto, se nossos ideais não forem definidos, ou nossas ideias não forem passadas de forma clara, qualquer esforço será inútil, considerando que se nem você acredita no que diz, o que dirá mudar ou formar opiniões alheias. Os relacionamentos múltiplos de longo prazo - RMLP’s, como comumente chamamos - diferente do que muitos acreditam, são capazes de nos proporcionar diversas experiências, nos mostrando um mundo que até então éramos incapazes de perceber. Eles nos dão a oportunidade de fazermos novas amizades, descobrirmos novos lugares, enxergarmos novos pontos de vista, sendo um sentimento que poderia, e deveria, ser compartilhado. Não é certo orgulhar-se por passar toda uma vida preso a um único relacionamento que não lhe faz feliz.
Viva os RMLP's!
[1]: O epicurismo é uma filosofia ateniense que prega a experiência somente através da felicidade, desfrutando dos prazeres existentes e vivência em função dos mesmos, evitando a dor e perturbações ocasionais.
~ Natalia
Então, peguemos como premissa o último exemplo. Em uma sociedade na qual a poligamia é tida como indecorosa, dizer-se claramente praticante de algo que beira à poligamia é - no mínimo - um completo desrespeito à moral.
No entanto, crescemos tão convictos de que a sociedade na qual vivemos foi construída a partir de uma única estrutura plausível, que acabamos nos esquecendo dos “porquês” presentes no mesmo contexto e que nos levaram a pensar dessa forma.
A monogamia surgiu séculos atrás, em circunstâncias nas quais as tribos eram comumente nômades, as mulheres tinham relações com vários homens e as crianças eram criadas pela comunidade. Diante de um quadro no qual era evidente a necessidade de se estabelecer um local fixo para moradia e produção de alimentos, criou-se o que hoje conhecemos como propriedade privada.
Desde então, os donos das respectivas terras se viram diante da necessidade de passarem seus bens somente para seus herdeiros. Para isso, era preciso que as mulheres com as quais tivessem relações permanecessem em casa cuidando de sua prole, para que seus parceiros se certificassem de que somente seus próprios filhos teriam acesso aos seus bens no futuro.
Então, surgiu o que hoje conhecemos como monogamia e toda a história na qual já conhecemos. Por isso, abramos nossas mentes. Os valores que herdamos não passam de bagagem histórica-social. Fomos educados para que moldemos nossa própria natureza instintiva e ocultemos, aos poucos, nossos desejos tidos como “libertinos”. Fomos criados para reproduzir o conteúdo que nos foi ensinado.
Isso não significa que, aos poucos, não consigamos desconstruir o que durante toda a vida nos foi imposto. Tudo só depende do quão dispostos estamos a sermos nós os agentes de mudança.
Será mesmo que nunca passou pela cabeça de ninguém abrir mão de um atual relacionamento para que fosse possível permitir-se ter contato com novas vivências? E se passou, quantos já não foram tomados por uma angustiante sensação de que, caso fossem em busca de novas experiências poderiam acabar sozinhos? Permanecer solitário é, sem dúvida, um dos maiores temores da humanidade.
Vivemos em uma sociedade limitante, na qual, querer para si mais do que os outros à sua volta possuem, até parece pecado. Parentes, amigos, namorada. Uma enorme quantidade de seres capaz de fazer com que você abra mão de suas crenças e desejos para que suas próprias consciências condicionadas não sejam afetadas.
Poucos são os que admitem para si que tudo poderia ser melhor. Que poderíamos viver cada um de nossos prazeres, se não vivêssemos em função dos mesmos, como no epicurismo¹, por exemplo.
Por isso, cabe somente a nós lembrarmos àqueles a nossa volta que a vida deve ser vivida sem medos ou inseguranças em relação às nossas perdas. Sair de um relacionamento monogâmico e caminhar em direção contrária não deve ser sinônimo de utopia, embora difícil. Tudo varia de acordo com nosso próprio ponto de vista. Se realmente acreditamos em algo, com o tempo, nos unimos a quem também partilha do mesmo ideal e, aos poucos, fazemos com que aqueles ao nosso redor passem a entender e concordar conosco.
No entanto, se nossos ideais não forem definidos, ou nossas ideias não forem passadas de forma clara, qualquer esforço será inútil, considerando que se nem você acredita no que diz, o que dirá mudar ou formar opiniões alheias. Os relacionamentos múltiplos de longo prazo - RMLP’s, como comumente chamamos - diferente do que muitos acreditam, são capazes de nos proporcionar diversas experiências, nos mostrando um mundo que até então éramos incapazes de perceber. Eles nos dão a oportunidade de fazermos novas amizades, descobrirmos novos lugares, enxergarmos novos pontos de vista, sendo um sentimento que poderia, e deveria, ser compartilhado. Não é certo orgulhar-se por passar toda uma vida preso a um único relacionamento que não lhe faz feliz.
Viva os RMLP's!
[1]: O epicurismo é uma filosofia ateniense que prega a experiência somente através da felicidade, desfrutando dos prazeres existentes e vivência em função dos mesmos, evitando a dor e perturbações ocasionais.
~ Natalia