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Mr. Fisher
#1060434 Como sempre, estava linda.

Sentada no banco daquela clínica, era uma mulher feita em seus 20 anos. Cabelo castanho claro com mechas loiras, vestido amarelo vivo justo ao corpo, uma pequena bolsa de couro pendurada nos ombros. Quanto ao rosto, nem me darei o trabalho de comentar algo além de: perfeito. Ainda assim, eu a via da mesma forma que quando brincava com a farda suja de terra no colégio. Se o tempo fora mais do que justo com essa moça, lhe dotando de extraordinária beleza, a mim infligiu tremenda injustiça, pois fiquei mais de 10 anos convivendo com ela sem que nos falássemos sequer uma vez. Absorvi a aura de alegria e ingenuidade que cercava seu mundo, mas sem nunca fazer parte dele. Talvez, tenha me marcado tão profundamente quanto isso, o fato de ter sido seu o primeiro corpo feminino nu que me recordo de ver na vida. Aconteceu há muito tempo, no jardim de infância, durante um dos banhos coletivos do colégio.

Off topic:
Aproveito e pergunto aos leitores: o que é mais estranho nessa situação? Que eu me lembre da imagem dela nua na minha frente quando eu tinha não mais que 4 anos? Que apenas me lembre dessa garota tomando banho, dentre todas as outras da sala? Que uma escola realize banhos coletivos com os alunos, mesmo que sejam muito novos para terem pensamentos maliciosos?

Eu nao sabia como havia parado naquele corredor de espera em uma clínica que parecia vagamente familiar e, na minha cabeça, algo dizia que a situação era peculiar demais para ser real. Mas, após vê-la, todo questionamento sobre meu paradeiro pareceu irrelevante. Comecei a raciocinar de forma a elaborar a melhor estratégia de abordagem. Nesse exato momento, ocorreu uma breve luta interna entre os sentimentos de medo e coragem. Anos de frustração pueril por estar tão perto e, ao mesmo tempo, tão longe dela haviam deixado sua marca, uma essência beta em mim que talvez nunca se apague. Mas, apesar disso, é inegável que estou melhor agora, mais inteligente socialmente, mais confiante e mais habilidoso com as mulheres. Assim, a batalha da minha alma logo foi ganha pelo lado alfa e eu pude, então, analisar a situação mais friamente:

Ela estava sentada em um banco comprido junto a outras 4/5 mulheres. No entanto, se encontrava particularmente isolada na ponta esquerda do banco, um set fácil.

Agi.

Caminhei calmamente em direção ao fim do corredor e, pouco antes de passar na frente dela, virei o rosto em sua direção de maneira natural. Logo que a olhei, olhou de volta e manteve contato visual por cerca de 3 segundos. Fui desacelerando o passo até parar pouco após de onde estava sentada, ainda havendo contato visual entre nós dois. Então, me sentei enquanto perguntava:

- (Eu) A gente se conhece de algum lugar?
- (Ela) Não sei, acho que já te vi em algum lugar.
- (Eu) Também tenho essa impressão. Você, por acaso, estudou no São Luís?
- (Ela) Sim, estudei! Você também?
[...] Não me lembro da conversa que se seguiu.


Pouco tempo depois, eu a beijei. Finalmente, depois de todos esses anos esperando, beijei a mulher que mais desejei na vida. Não foi um beijo roubado, foi um beijo lento no qual nós dois esquecemos o ambiente ao redor, esquecemos que estávamos fazendo algo inapropriado e esquecemos o motivo de estarmos lá, naquele hospital. Mas qual era mesmo o motivo de estarmos lá? Quando percebi a situação, ela abriu os olhos e olhou para mim como se quisesse dizer algo mas não conseguisse. Em seguida, o pensamento me veio à cabeça: isso não é real. Me virei para trás e vi as mulheres sentadas perto de nós ainda na mesma posição de antes, estáticas. Não se mexiam. Não conversavam. Estavam borradas, como em uma foto fora de foco. Voltei-me para Camila e olhei-a uma última vez antes das paredes começarem a derreter e tudo sumir.

...

Acordei calmo e demorei para abrir os olhos, esperando que, assim, o sonho pudesse voltar. Mas não.

Quando finalmente me rendi à realidade, comecei a captar as primeiras sensações do dia. Meu quarto já estava bem iluminado pelo sol. Calculei que já devia passar das 10 da manhã. Entretanto, minha cama ainda cheirava à mulher que havia se deitado nela ontem. O celular estava do meu lado. Pelo visto, dormi enquanto falava ao telefone novamente. Não foi a primeira vez que fiz isso, nem que sonhei que havia ficado com Camila.


Na verdade, faz duas semanas que sonho constantemente com abordagens em situações diferentes. Agora me recordo de que em uma delas fui atrás de uma garota que me deu as costas e consegui resgatar a interação. Os outros sonhos provavelmente envolveram jogos difíceis também. Talvez sejam um reflexo da situação complicada em que me encontro ou da minha vontade de jogar aprisionada pela recente tentativa de viver uma relação monogâmica. Dividido entre o amor do passado que voltou a morar em minha cidade e a me assombrar, o novo amor que conheci há um mês, mas com quem já possuo uma enorme conexão, e a vida de solteiro que está cada vez mais atraente com os conhecimentos de sedução que venho aprendendo: não tenho a menor ideia de que caminho tomar.

Texto escrito no dia 05/10/2017


Slan

Mr. Fisher