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Pedrosiqueira - MEMBRO EXCLUSIVO
#1107318 A idéia de que homens e mulheres apresentam características conversacionais diferentes já está bastante difundida no senso comum, e não é raro livros de psicologia e antropologia apresentarem capítulos inteiros sobre como entender o sexo oposto. Porém, como estudiosos da linguagem, pretendemos ir além dessas supostas “receitas”, buscando respostas para questionamentos tais como: Qual a natureza das diferenças lingüísticas existentes entre homens e mulheres? Como podemos analisar as estratégias lingüísticas usadas nessa interação? Assim, neste trabalho, nos propomos a analisar essas questões a partir da perspectiva oferecida pela Teoria da Polidez de BROWN e LEVINSON (1986), uma vez que a Pragmática é a área da lingüística que nos oferece suporte teórico para podermos avançar na descrição das regras e princípios que estão em vigor quando nos comunicamos, e que permitem uma melhor compreensão dos mecanismos presentes no uso que os falantes fazem da língua.

As diferenças lingüísticas entre os gênero masculino e feminino começam desde a aquisição da linguagem, pois já se sabe que as meninas são mais precoces do que os meninos. As mulheres têm demonstrado uma vantagem sobre os homens nos testes de fluência, complexidade da oração, escuta e compreensão no material escrito e falado, vocabulário e ortografia. Por outro lado, os homens são mais propensos à gagueira e a dificuldades para escrever, assim como a sofrer desordem afásica depois de um dano cerebral.Além dessas particularidades apresentadas na fase inicial, mulheres e homens também
usam a linguagem de forma diferente e é nesse terreno que as diferenças na polidez podem ser observadas. Mas, afinal, o que é polidez lingüística?
Tradicionalmente, o termo “polidez” foi concebido como um conjunto de mostras de respeito ou deferência. Em um enfoque moderno, a polidez é entendida como fruto da necessidade humana de manter o equilíbrio nas relações interpessoais e a sua manifestação externa seria o conjunto de estratégias lingüísticas que podem ser utilizadas por um falante para evitar ou reduzir o conflito com o interlocutor quando os interesses de ambos não coincidem.

Estes autores trabalham com a noção metafórica de face, que é a imagem pública que cada indivíduo tem e reivindica para si. Essa imagem apresenta duas vertentes: por um lado, o desejo de não sofrer imposições, que é a face negativa; por outro, o desejo de ser apreciado pelo outro, que é a face positiva. Assim, não prejudicar a imagem alheia e proteger a própria é a melhor maneira de manter as boas relações sociais. Este duplo objetivo, que na maioria dos casos tem prioridade sobre o objetivo de conseguir uma comunicação econômica e eficaz, tem a seu serviço um instrumento específico: as estratégias de polidez. Vejamos o seguinte exemplo:

(1) Um homem jovem bate à porta de um desconhecido e pede ajuda a um homem idoso.

Eu lamento incomodá-lo, mas nosso carro quebrou. Será que eu poderia usar seu telefone para chamar a assistência?

O homem jovem em (1) expressa-se muito polidamente. Ele se desculpa pela intrusão, justifica-se, e seu pedido de ajuda é feito em termos muito polidos. A polidez é uma expressão de preocupação como os sentimentos dos outros. As pessoas podem expressar tal preocupação de muitas formas, lingüísticas e não-lingüísticas. Desculpar-se por uma intrusão, abrir a porta para outro, convidar um novo vizinho para um chá, usar títulos corteses como “senhor” ou “madame” e evitar palavrões em uma conversação com sua avó poderiam ser considerados exemplos de comportamento polido.
No uso cotidiano, o termo “polidez” descreve um comportamento formal e distante, que pretende não ser intrusivo ou impositivo.
A polidez pode tomar também a forma de uma expressão de camaradagem e empatia. O comportamento que evita imposições sobre o outro (ou evita ameaçar a face dele) é descrito como evidência de polidez negativa. Já quando o comportamento do falante expressa apreço pelo destinatário, temos a polidez positiva. Como exemplo da polidez positiva, temos os elogios, as felicitações, mostras de solidariedade etc.
Com isso, comportamentos como evitar telefonar para um colega no domingo de manhã ou desculpar-se por interromper um falante são manifestações de polidez negativa. Quando mandamos uma cartão de aniversário a um amigo ou tratamos alguém próximo de forma carinhosa, trata-se de polidez positiva. Embora a polidez possa ser expressada tanto de forma verbal como não verbal, neste trabalho nos interessa a polidez lingüística, ou seja, as formas nas quais as pessoas expressam a polidez através do uso da linguagem.

Por que mulheres e homens
interagem de forma diferente?

Estas diferentes percepções do propósito da fala mostram uma ampla variedade de diferenças na forma como homens e mulheres usam a linguagem. Certos padrões variam de acordo com o contexto. Por exemplo, o homem tende a dominar o tempo da fala pública, enquanto a mulher parece esforçar-se para fazer o sexo oposto falar na privacidade do lar. Algumas dessas diferenças refletem diferentes significados atribuídos a uma mesma forma lingüística. As mulheres tendem a usar perguntas e marcadores pragmáticos como “você sabe”, presente no exemplo (2), para encorajar o interlocutor a falar.

(2) Você sabe como é fim de semestre na faculdade, uma loucura!

Já os homens tendem a usar tais marcadores para verificar a certeza ou validade da informação que eles estão dando.
Desta forma, observa-se que as razões que os homens têm para falar geralmente estão focalizadas sobre o conteúdo da fala ou sobre seu resultado e não em como isto afeta os sentimentos dos outros. Já as mulheres enfatizam este aspecto da fala que demonstra preocupação com o interlocutor, o que justificaria o fato de que elas elogiam e pedem desculpas com mais freqüência do que eles.



Como podemos analisar e medir
a polidez lingüística?

Sabemos que há muitas formas de demonstrar preocupação com o sentimento do outro (felicitação, cumprimentos, desculpas, uma resposta animadora, um tom de voz gentil,...). As línguas apresentam infinitos recursos para expressar significado e a polidez lingüística utiliza-se produtivamente de tais recursos. Assim, os meios lingüísticos pelos quais a polidez pode ser expressada são muito variados. As escolhas lexicais entre diferentes palavras podem ser importantes em certos contextos. Selecionar a construção gramatical pode diminuir ou aumentar a polidez.

(3) Eu amo esta camiseta.

(4) Eu gosto desta camiseta.

(5) Que filhos adoráveis.

(6) Teus filhos são adoráveis.

Nessa língua, as formas (3) e (5) foram encontradas com mais freqüência entre as mulheres. Estas usam mais recursos para intensificar seus elogios. Já os homens, como em (4) e (6), mostram-se mais discretos, substituem “amar” por “gostar” e tendem a não usar o intensificador “que”. Parece-nos que esses padrões permaneceriam no português brasileiro (PB). Imaginemos a seguinte construção:
(7) Que gracinha de bebê!

dificilmente seria usado por um homem, pois o uso de diminutivos seria mais freqüente entre as mulheres, também formas como “que graça de bebê” parecem não ser muito usadas pelo homem brasileiro. Este provavelmente usaria algo como “belo bebê”. Desta forma, também no PB haveriam diferenças na escolha de determinados itens lexicais, assim como nas formações morfossintáticas entre homens e mulheres. Lembramos que estas são considerações ainda bastante intuitivas e que estudos contrastivos empíricos neste terreno — a exemplo de outros países — serão muito bem vindos.

Na Nova Zelândia, as mulheres fazem mais elogios entre si, principalmente quando se trata da aparência. Elogios desta natureza entre o sexo masculino, naquela cultura, assim como na nossa, não são muito bem vistos. Assim, o fato de um homem elogiar algum aspecto físico de outro homem (como “gostei do teu corte de cabelo”) pode causar surpresa ou até mesmo embaraço. Porém é interessante notar que elogios por aquisições ou conquistas, já são mais freqüentes entre os homens do que entre as mulheres naquela cultura.

Observa-se que não há apenas uma grande variedade de formas para expressar a polidez lingüística, também uma construção pode expressar diferentes significados em diferentes contextos. Deste modo, não existe nenhuma forma lingüística intrinsicamente polida. Vejamos o seguinte exemplo.

(8) Você acha que seria possível contatar o Valério hoje?

(8) pode parecer muito polido, mas não devemos chegar a tal conclusão sem conhecer o contexto social em que ocorreu. Se é a 1ª vez que o que o assessor de um político faz esse pedido à secretária, então pode ser identificado como uma forma polida. Depende do tipo de distância social existente entre os dois. Se eles normalmente interagem num estilo menos formal, e esta é a 2ª ou 3ª vez que o pedido é feito, tal formalidade pode ser uma expressão indireta de aborrecimento. As formas que parecem polidas teriam a função de expressar a irritação do falante. Assim, o significado de uma forma lingüística específica usada em um enunciado somente pode ser interpretada de modo seguro, se conhecemos o grau de distância e poder existente entre os participantes e o contexto particular no qual o enunciado foi produzido.

A partir dessas considerações anteriores, analisemos o seguinte exemplo:

(9) Gostei do seu vestido novo.

Se for um marido elogiando o vestido novo que a mulher está usando, provavelmente (9) será uma estratégia de polidez positiva. Por outro lado, a mesma construção dita por uma jovem que vê a irmã usando seu vestido novo que pegou emprestado sem pedir, pode ser uma reprovação, feita em forma de ironia. Neste caso, a falante, que também é a dona do vestido, ao escolher a forma indireta, acaba atenuando a ameaça à imagem negativa do ouvinte, pois se usasse uma forma direta como “vai tirar o meu vestido agora”, seria um ato muito mais ameaçador à imagem negativa da irmã — seu desejo de não sofrer imposições.
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Cachorrao

Veterano - nível 1

#1107324 1 - Gostei da postagem sua! :ae
2 - Foi voce que escreveu esse texto?
4 - Se não for voce quem escreveu esse texto, de onde que tirou essas idéias?! Pesquisa?!
5 - Essas idéias que estão no texto, ainda funcionam nos dias de hoje?!

Recomendação: Evite postar textos muitos longos ( Usuários não apreciam muito a leitura aqui neste forum) com palavras desconhecidas e de dificil entendimento... :ae
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Lindomar2021

Aprendiz

#1108929 Eu posso adicionar a esta postagem com meu conhecimento de designer de produtos que trata da relação objeto-usuário que as pessoas tem com seus itens
A mulher compra maquiagem e outros cosméticos que são produtos de cores que o homem não costuma ter e com a distribuição que tem. O nome dos perfumes e xampus que elas usam também são diferentes, ou seja, elas tem contato constante com algo que as inspira de outra forma (inspira no sentido de se embelezar e se preparar para o trabalho ou balada). As roupas de mulher são muito mais variadas em corte e detalhes e a visão que elas tem das próprias roupas incita outras palavras que as nossas calças e camisetas com algumas estampas e, estourando, uma camiseta de banda, não trazem as mesmas palavras. Acho que os cheiros de esmalte e aquelas paradas pra limpar que elas usam também mexem com o cérebro delas, funcionando tipo um loló que deixa elas doidonas com o tempo, por isto falam um monte de coisas..mas isso é só uma teoria minha.