- 14 Nov 2010, 15:31
#141550
Aquele tipo de homem que não ajuda em casa, é dono do controle remoto e conta vantagens para os amigos é uma espécie em extinção
Machões de todo o mundo, tremei. Ao que tudo indica, há cada vez menos espaço para o tipo que cospe no chão, bate no peito, conta vantagem para os amigos e deixa a mulher a sós com a louça suja e o tanque cheio.
Quem diz — e comemora — são mulheres satisfeitas com o novo sujeito que anda pela casa. No lugar de maridos esparramados na poltrona, mocinhos comportados e prestativos. Gostam da TV, mas dividem o controle remoto, para recorrer a um exemplo bem estereotipado. Estaria o tal macho de raiz com os dias contados?
Ao que tudo indica, sim. É mais fácil encontrar por aí pés de valsa, mestres-cucas e consumidores cativos de cosméticos do que a criatura que ainda exige ser servida por uma mulher estilo Amélia — até porque essa aí também está em extinção.
— O modelo de masculinidade está mudando — acredita Paulo Roberto Ceccarelli, psicólogo especialista em sexualidade e professor da Pontifícia Universidade Católica de Belo Horizonte. — Antes, o homem tinha mais necessidade de provar o tempo inteiro que era macho, era uma constante construção. Hoje, o que se vê é que ele tem cada vez menos medo de perder a tal masculinidade.
Por essa lógica, se ele tem menos medo, incomoda-se menos também em realizar tarefas antes tidas como "de mulher". Para o psicólogo, é como se o conhecido modelo do homem que não chora e que não entra na cozinha estivesse em crise.
— Mesmo que ele quisesse, ficaria difícil ser machão. Hoje tem lei que impede. Se ele bater na mulher, vai preso. Se não der prazer à mulher, ela pede o divórcio. Se divorciar, tem que dividir os bens — exemplifica.
Antes de se atribuir toda a responsabilidade por esse novo homem às mulheres, há que se questionar se toda essa revolução comportamental não é resultado de uma outra, mais abrangente: a cultural e a tecnológica.
— A sociedade mudou muito e rapidamente. De repente, a família, que antes era o grande foco da organização social, ficou em segundo plano em prol do indivíduo — explica o antropólogo Rui Murrieta, professor do Departamento de Genética e Biologia Evolutiva da Universidade de São Paulo.
Sem a configuração familiar original e na base do "cada um por si" e do "toma que o filho é teu", os homens ficaram um pouco perdidos. Se o modelo dos pais e dos avôs, que eram os provedores da família, não serve mais, qual é o tipo de homem que vai se encaixar melhor a essa situação?
— Ninguém sabe ainda. Por causa dessa mudança muito rápida, eles vão buscando maneiras de se adaptar mesmo que não exista uma pressão seletiva pela sobrevivência — ilustra Murrieta, remetendo à tese de seleção natural.
Ele lembra que, mesmo entre os animais, nem sempre o modelo do macho alfa, dominador, funciona.
— Há evidências de que muitas vezes o mais disputado pelas fêmeas é o conciliador. Nas sociedades humanas, onde a complexidade é maior, isso fica ainda mais evidente.
*********
Texto extraído do site ClicRBS
http://www.clicrbs.com.br/especial/rs/donna/19,206,3105660,Onde-foi-parar-o-machao.html
Machões de todo o mundo, tremei. Ao que tudo indica, há cada vez menos espaço para o tipo que cospe no chão, bate no peito, conta vantagem para os amigos e deixa a mulher a sós com a louça suja e o tanque cheio.
Quem diz — e comemora — são mulheres satisfeitas com o novo sujeito que anda pela casa. No lugar de maridos esparramados na poltrona, mocinhos comportados e prestativos. Gostam da TV, mas dividem o controle remoto, para recorrer a um exemplo bem estereotipado. Estaria o tal macho de raiz com os dias contados?
Ao que tudo indica, sim. É mais fácil encontrar por aí pés de valsa, mestres-cucas e consumidores cativos de cosméticos do que a criatura que ainda exige ser servida por uma mulher estilo Amélia — até porque essa aí também está em extinção.
— O modelo de masculinidade está mudando — acredita Paulo Roberto Ceccarelli, psicólogo especialista em sexualidade e professor da Pontifícia Universidade Católica de Belo Horizonte. — Antes, o homem tinha mais necessidade de provar o tempo inteiro que era macho, era uma constante construção. Hoje, o que se vê é que ele tem cada vez menos medo de perder a tal masculinidade.
Por essa lógica, se ele tem menos medo, incomoda-se menos também em realizar tarefas antes tidas como "de mulher". Para o psicólogo, é como se o conhecido modelo do homem que não chora e que não entra na cozinha estivesse em crise.
— Mesmo que ele quisesse, ficaria difícil ser machão. Hoje tem lei que impede. Se ele bater na mulher, vai preso. Se não der prazer à mulher, ela pede o divórcio. Se divorciar, tem que dividir os bens — exemplifica.
Antes de se atribuir toda a responsabilidade por esse novo homem às mulheres, há que se questionar se toda essa revolução comportamental não é resultado de uma outra, mais abrangente: a cultural e a tecnológica.
— A sociedade mudou muito e rapidamente. De repente, a família, que antes era o grande foco da organização social, ficou em segundo plano em prol do indivíduo — explica o antropólogo Rui Murrieta, professor do Departamento de Genética e Biologia Evolutiva da Universidade de São Paulo.
Sem a configuração familiar original e na base do "cada um por si" e do "toma que o filho é teu", os homens ficaram um pouco perdidos. Se o modelo dos pais e dos avôs, que eram os provedores da família, não serve mais, qual é o tipo de homem que vai se encaixar melhor a essa situação?
— Ninguém sabe ainda. Por causa dessa mudança muito rápida, eles vão buscando maneiras de se adaptar mesmo que não exista uma pressão seletiva pela sobrevivência — ilustra Murrieta, remetendo à tese de seleção natural.
Ele lembra que, mesmo entre os animais, nem sempre o modelo do macho alfa, dominador, funciona.
— Há evidências de que muitas vezes o mais disputado pelas fêmeas é o conciliador. Nas sociedades humanas, onde a complexidade é maior, isso fica ainda mais evidente.
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Texto extraído do site ClicRBS
http://www.clicrbs.com.br/especial/rs/donna/19,206,3105660,Onde-foi-parar-o-machao.html