- 10 Jan 2011, 09:55
#176762
Essa é a base do método que eu chamo de Imenso Azul. Tudo foi criado a partir desse conceito. Este não é um texto fácil de se ler, mas você que certamente busca um jogo diferente deverá le-lo.
Esta é uma pequena fração do e-book que estou escrevendo e foi postada também em meu blog http://www.keekgeek.com.br
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Freud considera que o processo de uma mulher se tornar uma mulher implica em duas tarefas complexas, a mudança da zona erógena, do clitóris para a vagina e a mudança de objeto de amor, da mãe para o pai.
Isso gera uma angústia insaciável na mulher, que é a demanda por amor. Isso porque as mulheres permanecem presas à forma mais primitiva de angústia, o desamparo. O amor resulta em ciclos que necessitam de sustento e o apoio incondicional.
Toda a sedução é baseada no suprimento dessa demanda por amor da mulher e na energia que ela deposita em um relacionamento. As mulheres não temem perder o homem, mas sim, temem perder o amor de um homem. Portanto o amor para as mulheres é o refúgio frente ao desamparo.
Entramos em uma questão mais fundamental da mulher que é a dicotomia, sendo que dessa vez o amor se contradiz em relação ao narcisismo. Por isso o gozo feminino, não somente o fálico, não é tão profundo quando o gozo feito de angústia e pulsão de morte. A morte de si mesmo, a morte da sua angústia e sua segurança. Para compreenderem melhor, vou citar Lacan em “Diretrizes para um congresso sobre a sexualidade feminina” neste caso:
“De fato, por que não admitir que, se não há virilidade que a castração não consagre, é um amante castrado ou um homem morto (ou os dois em um) que, para a mulher, oculta-se por trás do véu para ali invocar sua adoração – ou seja, no mesmo lugar, para-além do semelhante materno, de onde lhe veio ameaça de uma castração que realmente não lhe diz respeito?“
Na mulher nota-se uma tendência de degradar o homem, talvez resultado de uma castração psicológica, visando buscar a adoração pelo objeto. Essa é a explicação das mulheres gostarem de bandidos e homens de baixo valor. É na sua própria posição de gozo que a mulher se prende à seu narcisismo.
Se a mulher supor que é amada ela pode fazer concessões sem limites para um homem. Essa mesma dicotomia vista anteriormente e a angústia narcisista das mulheres é mostrada claramente por Shakespeare, quando Ana Vitupera xinga Ricardo, chamando-o de “monstro infecto” e ele a lisonjeia de “Doce santa, por caridade, menos maldição! Divina perfeição de mulher.”. Ricardo, na realidade está pedindo piedade por sua vida, atribuindo à beleza de Ana a razão de ter matado o Rei Henrique e não negando seus crimes, mas sim oferecendo para se matar. Porém, uma mulher jamais deixará o amor do seu objeto ir embora, terminando por concordar em entregar-se ao corpo do “amado”.
Essa dicotomia é vista novamente na cena IV do quarto ato, quando Ricardo, casado com Ana e rei aborda a Rainha Elisabeth, viúva de seu irmão em que Ricardo busca a cumplicidade da cunhada para seduzir a sobrinha. Seus argumentos exploram o narcisismo da rainha. Diz que os futuros filhos, dele Ricardo com a sobrinha, serão filhos da têmpera da rainha: “Vossos filhos foram o tormento de vossa juventude; os meus serão o consolo de vossa velhice… Vós sereis novamente mãe de um rei, e todas as ruínas dos tempos de desgraça serão reparadas com o tesouro de uma dupla felicidade”. Para quem não sabe a Rainha Ana não poderia ter filhos e aos poucos Elisabeth cede:
Elisabeth: Estarei assim sendo tentada pelo demônio?
Ricardo: Sim, se o demônio vos tenta para o bem.
Elisabeth: Esquecer-me-ia eu mesmo de ser eu mesma?
Ricardo: Sim, se a lembrança de vós mesma prejudica a vós mesma.
Elisabeth: Mas tu mataste meus filhos!
Ricardo: Mas sepultá-los-ei no seio de vossa filha, em cujo perfumado ninho renascerão por si mesmos para vosso reconforto.
Elisabeth: Irei conquistar minha filha para teus desejos?
Ricardo: E feliz mãe, sereis assim!
Elisabeth:Irei… Escreve-me logo e por meu intermédio conhecerás os sentimentos dela.
Ricardo: Levai-lhe o beijo do meu sincero amor! E com isto, adeus! (sai a rainha) Frágil louca, mulher fútil e inconstante!
Mas Elisabeth não é louca de todo. Amparada pelas palavras de amor, se vê narcisicamente na filha, tão bela como ela o fora quando conquistara o seu rei. As mulheres não são todas loucas, elas são não-todas e para sustentar seu ser não-todo preso à palavra, ao significante, precisam da palavra de amor como sustento, apoio e conforto.
Esta é uma pequena fração do e-book que estou escrevendo e foi postada também em meu blog http://www.keekgeek.com.br
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Freud considera que o processo de uma mulher se tornar uma mulher implica em duas tarefas complexas, a mudança da zona erógena, do clitóris para a vagina e a mudança de objeto de amor, da mãe para o pai.
Isso gera uma angústia insaciável na mulher, que é a demanda por amor. Isso porque as mulheres permanecem presas à forma mais primitiva de angústia, o desamparo. O amor resulta em ciclos que necessitam de sustento e o apoio incondicional.
Toda a sedução é baseada no suprimento dessa demanda por amor da mulher e na energia que ela deposita em um relacionamento. As mulheres não temem perder o homem, mas sim, temem perder o amor de um homem. Portanto o amor para as mulheres é o refúgio frente ao desamparo.
Entramos em uma questão mais fundamental da mulher que é a dicotomia, sendo que dessa vez o amor se contradiz em relação ao narcisismo. Por isso o gozo feminino, não somente o fálico, não é tão profundo quando o gozo feito de angústia e pulsão de morte. A morte de si mesmo, a morte da sua angústia e sua segurança. Para compreenderem melhor, vou citar Lacan em “Diretrizes para um congresso sobre a sexualidade feminina” neste caso:
“De fato, por que não admitir que, se não há virilidade que a castração não consagre, é um amante castrado ou um homem morto (ou os dois em um) que, para a mulher, oculta-se por trás do véu para ali invocar sua adoração – ou seja, no mesmo lugar, para-além do semelhante materno, de onde lhe veio ameaça de uma castração que realmente não lhe diz respeito?“
Na mulher nota-se uma tendência de degradar o homem, talvez resultado de uma castração psicológica, visando buscar a adoração pelo objeto. Essa é a explicação das mulheres gostarem de bandidos e homens de baixo valor. É na sua própria posição de gozo que a mulher se prende à seu narcisismo.
Se a mulher supor que é amada ela pode fazer concessões sem limites para um homem. Essa mesma dicotomia vista anteriormente e a angústia narcisista das mulheres é mostrada claramente por Shakespeare, quando Ana Vitupera xinga Ricardo, chamando-o de “monstro infecto” e ele a lisonjeia de “Doce santa, por caridade, menos maldição! Divina perfeição de mulher.”. Ricardo, na realidade está pedindo piedade por sua vida, atribuindo à beleza de Ana a razão de ter matado o Rei Henrique e não negando seus crimes, mas sim oferecendo para se matar. Porém, uma mulher jamais deixará o amor do seu objeto ir embora, terminando por concordar em entregar-se ao corpo do “amado”.
Essa dicotomia é vista novamente na cena IV do quarto ato, quando Ricardo, casado com Ana e rei aborda a Rainha Elisabeth, viúva de seu irmão em que Ricardo busca a cumplicidade da cunhada para seduzir a sobrinha. Seus argumentos exploram o narcisismo da rainha. Diz que os futuros filhos, dele Ricardo com a sobrinha, serão filhos da têmpera da rainha: “Vossos filhos foram o tormento de vossa juventude; os meus serão o consolo de vossa velhice… Vós sereis novamente mãe de um rei, e todas as ruínas dos tempos de desgraça serão reparadas com o tesouro de uma dupla felicidade”. Para quem não sabe a Rainha Ana não poderia ter filhos e aos poucos Elisabeth cede:
Elisabeth: Estarei assim sendo tentada pelo demônio?
Ricardo: Sim, se o demônio vos tenta para o bem.
Elisabeth: Esquecer-me-ia eu mesmo de ser eu mesma?
Ricardo: Sim, se a lembrança de vós mesma prejudica a vós mesma.
Elisabeth: Mas tu mataste meus filhos!
Ricardo: Mas sepultá-los-ei no seio de vossa filha, em cujo perfumado ninho renascerão por si mesmos para vosso reconforto.
Elisabeth: Irei conquistar minha filha para teus desejos?
Ricardo: E feliz mãe, sereis assim!
Elisabeth:Irei… Escreve-me logo e por meu intermédio conhecerás os sentimentos dela.
Ricardo: Levai-lhe o beijo do meu sincero amor! E com isto, adeus! (sai a rainha) Frágil louca, mulher fútil e inconstante!
Mas Elisabeth não é louca de todo. Amparada pelas palavras de amor, se vê narcisicamente na filha, tão bela como ela o fora quando conquistara o seu rei. As mulheres não são todas loucas, elas são não-todas e para sustentar seu ser não-todo preso à palavra, ao significante, precisam da palavra de amor como sustento, apoio e conforto.