- 23 Mar 2011, 03:02
#221232
Antes de mais nada, venho aqui compartilhar com vocês sobre Giácomo Casanova. Sou realmente um fã dele e estou no 5º volume de suas memórias. Recentemente encontrei um livro que tratava de Casanova de uma forma mais "filosófica" então resolvi fazer esse post.
Casanova, por que ele?
Colocarei aqui algumas trechos do livro de Stefan Zweig chamado “Três poetas de sua vida” onde ele aborda Casanova e mais dois outros “poetas.” Mais abrangente que o “resumão” feito por Ian Kelly em seu livro “ Casanova muito além de um grande sedutor”, Zweig explora muito mais as características de Casanova em uma abordagem muito interessante.
Obs.: Cada um que tire a sua própria conclusão. Grafados em negritos as citações de Casanova.
“Meu maior tesouro é não temer a desgraça e ser senhor de mim mesmo”
“Nunca se preocupa com o que se possa pensar dele e sim, com encantadora agilidade, salta por sobre todas as vaias da moral, indiferente as afiadas pontas do furor dos que ficam atrás e à indagação dos que vão pisando cinicamente em seu caminho.”
“A coragem é a medula de sua vida; é a sua arte, é o seu dote. Não procura guardar sua existência; ao contrário: vive a expô-la, a jogar com ela. É por isso que observamos que entre os precavidos, os cautelosos, sobe sempre aquele que é ousado que se arrisca, que joga tudo numa cartada. A sorte ama os audaciosos que a tentem, pois o jogo é o seu elemento.”
“Carpem diem: goza o teu dia; aproveita o momento presente, espreme-o como se fosse um cacho de uvas e deixa o bagaço para os porcos – essa é sua norma e sua divisa: agarrar-se bem ao mundo; tomar o que vê, o que está o que está ao alcance; tomar em cada minuto tudo o que eu vê, o que está ao alcance; tomar em cada minuto tudo o que houver de doce e sensual. É essa toda a sua filosofia. É por isso que afasta, sorridente, para bem longe dele, o que se chama honra, decência, dever, vergonha, fidelidade, isto é, o lastro ético que se opõe à posse do que se deseja.”
“Vergonha? Que estranha palavra! Que quererá dizer? Esse vocábulo lhe é desconhecido; não existe no seu dicionário. Com a desfaçatez de um lazzarone, apresenta-se ante o público mostrando tudo o que pode mostrar, e deixa sair de sua boca coisa que outro qualquer não se decidiria a confessar nas garras da tortura; isto é: suas velhacarias, suas torpezas, suas avarias sexuais, suas curas de sífilis.”
“Toda a filosofia de Casanova caberia no côncavo de uma casca de noz. Reduz-se a um único principio. É preciso passar pela vida, sem preocupações; viver espontaneamente. Não se deixar enganar pela incerta possibilidade de outra vida futura em outro mundo, nem tampouco pensar na posteridade. Não há razão para perder o momento presente por causa de teorias. Devemos deixar levar-nos pelas inclinações do momento sem pensar em razões teológicas ou praticas. Todo preconceito corrói as articulações e faz perder a liberdade do movimento. Ninguém,pois, deve parar pra refletir ou meditar. Um Deus misterioso parece que nos pôs ante o mundo com ante uma mesa de jogo; e portanto devemos aceitar as regras do jogo são, sem indagarmos se podem ser justas, corretas ou falsas.”
“Só os que são ingênuos procuram um sistema de jogar na roleta, e com isso apenas conseguem perder o prazer do jogo. O verdadeiro jogador – tanto na mesa do jogo como no mundo - saboreia o jogo justamente o imprevisto, esse incomparável encanto da sorte.”
“Como é na realidade Casanova? Bom ou mal? Honrado ou embusteiro? Herói ou miserável? Nem uma nem outra coisa; é o que determina o momento, colore-se conforme as circunstâncias e transforma-se com as transformações do instante em que pensa.”
“Se observa Casanova sem diversões, sem distrações, vê-se logo como sua tranqüilidade e seu aprumo se transformam na mais espantosa inquietação. Chega à noite a uma cidade estranha, desconhecida; não fica nem uma hora no seu aposento consigo mesmo ou com um livro. Aspira o ar, vagueia, procura um divertimento...”
“Nada mais distante da verdade se imagina Casanova como o tipo de beleza que chamamos de moderno, isto é esbelto, bell’uomo, efebo. Não; é um verdadeiro macho, com ombros de Hércules, músculos de lutador romano, beleza morena de zíngaro, élan e cinismo de condottiere, e com ardor de um fauno.”
“Nunca esgota seu corpo; quando um desejo esta satisfeito, procura logo outro; seus nervos sempre estão despertos para o feminino; sua paixão, apesar de todas as dissipações mais terríveis, nunca esmorece, vive num eterno impulso.”
“Enfim, para ele nada há tão importante como a mulher, que coloca acima de todos os seus negócios, com o ímpeto torrencial e completo do seu ser. [...] Assim, para Casanova, o prazer de todos os prazeres é ver as mulheres felizes; vê-las entregues ao gozo, deliciosamente embriagadas de prazer, encantadas, sorridentes.”
“Amei loucamente as mulheres, mas sempre preferindo minha liberdade.”
Agora meus companheiros que chegaram até essa parte do texto, prestem atenção. Há agora uma passagem importante a ser descrita e que tem que ser muito bem interpretada.
“Seria inútil se os jovens quisessem aprender com esse mestre o segredo dos seus êxitos; em vão folheariam a maravilhosa ars amandi, que são suas Memórias. A arte de seduzir não se aprende nos livros, assim como de nada serve ler poemas para ser poeta. Nada se obteria estudando esse mestre, poos não há nenhuma tática, nenhum “truc” que lhe seja peculiar. Todo o seu segredo está na sinceridade do seu desejo e no modo de reagir da sua natureza passional.”
Após ler isso ficamos pensando “... de nada serve ler poemas para ser poeta.” Claro que não, para ser um sedutor tem que seduzir, só a leitura não te dará o que necessita. Casanova é um exemplo a ser seguido, é uma inspiração. O que o autor diz nesse trecho é que ele é simplesmente a personificação de seus desejos. O verdadeiro homem que todos buscamos ser.
“Casanova que nunca vai além do físico, pode facilmente manter o que prometia: prometeu prazer em troca de prazer, corpo ardente contra corpo ardente, e nunca deixou nas mulheres dúvidas sentimentais. Por isso elas não se consideram enganadas post festum.”
“Em certa ocasião deixa mesmo escapar uma frase perigosa: Então, compreendi, de um modo vago, que o amor talvez não fosse mais do que uma curiosidade mais ou menos viva.”
Casanova, por que ele?
Colocarei aqui algumas trechos do livro de Stefan Zweig chamado “Três poetas de sua vida” onde ele aborda Casanova e mais dois outros “poetas.” Mais abrangente que o “resumão” feito por Ian Kelly em seu livro “ Casanova muito além de um grande sedutor”, Zweig explora muito mais as características de Casanova em uma abordagem muito interessante.
Obs.: Cada um que tire a sua própria conclusão. Grafados em negritos as citações de Casanova.
“Meu maior tesouro é não temer a desgraça e ser senhor de mim mesmo”
“Nunca se preocupa com o que se possa pensar dele e sim, com encantadora agilidade, salta por sobre todas as vaias da moral, indiferente as afiadas pontas do furor dos que ficam atrás e à indagação dos que vão pisando cinicamente em seu caminho.”
“A coragem é a medula de sua vida; é a sua arte, é o seu dote. Não procura guardar sua existência; ao contrário: vive a expô-la, a jogar com ela. É por isso que observamos que entre os precavidos, os cautelosos, sobe sempre aquele que é ousado que se arrisca, que joga tudo numa cartada. A sorte ama os audaciosos que a tentem, pois o jogo é o seu elemento.”
“Carpem diem: goza o teu dia; aproveita o momento presente, espreme-o como se fosse um cacho de uvas e deixa o bagaço para os porcos – essa é sua norma e sua divisa: agarrar-se bem ao mundo; tomar o que vê, o que está o que está ao alcance; tomar em cada minuto tudo o que eu vê, o que está ao alcance; tomar em cada minuto tudo o que houver de doce e sensual. É essa toda a sua filosofia. É por isso que afasta, sorridente, para bem longe dele, o que se chama honra, decência, dever, vergonha, fidelidade, isto é, o lastro ético que se opõe à posse do que se deseja.”
“Vergonha? Que estranha palavra! Que quererá dizer? Esse vocábulo lhe é desconhecido; não existe no seu dicionário. Com a desfaçatez de um lazzarone, apresenta-se ante o público mostrando tudo o que pode mostrar, e deixa sair de sua boca coisa que outro qualquer não se decidiria a confessar nas garras da tortura; isto é: suas velhacarias, suas torpezas, suas avarias sexuais, suas curas de sífilis.”
“Toda a filosofia de Casanova caberia no côncavo de uma casca de noz. Reduz-se a um único principio. É preciso passar pela vida, sem preocupações; viver espontaneamente. Não se deixar enganar pela incerta possibilidade de outra vida futura em outro mundo, nem tampouco pensar na posteridade. Não há razão para perder o momento presente por causa de teorias. Devemos deixar levar-nos pelas inclinações do momento sem pensar em razões teológicas ou praticas. Todo preconceito corrói as articulações e faz perder a liberdade do movimento. Ninguém,pois, deve parar pra refletir ou meditar. Um Deus misterioso parece que nos pôs ante o mundo com ante uma mesa de jogo; e portanto devemos aceitar as regras do jogo são, sem indagarmos se podem ser justas, corretas ou falsas.”
“Só os que são ingênuos procuram um sistema de jogar na roleta, e com isso apenas conseguem perder o prazer do jogo. O verdadeiro jogador – tanto na mesa do jogo como no mundo - saboreia o jogo justamente o imprevisto, esse incomparável encanto da sorte.”
“Como é na realidade Casanova? Bom ou mal? Honrado ou embusteiro? Herói ou miserável? Nem uma nem outra coisa; é o que determina o momento, colore-se conforme as circunstâncias e transforma-se com as transformações do instante em que pensa.”
“Se observa Casanova sem diversões, sem distrações, vê-se logo como sua tranqüilidade e seu aprumo se transformam na mais espantosa inquietação. Chega à noite a uma cidade estranha, desconhecida; não fica nem uma hora no seu aposento consigo mesmo ou com um livro. Aspira o ar, vagueia, procura um divertimento...”
“Nada mais distante da verdade se imagina Casanova como o tipo de beleza que chamamos de moderno, isto é esbelto, bell’uomo, efebo. Não; é um verdadeiro macho, com ombros de Hércules, músculos de lutador romano, beleza morena de zíngaro, élan e cinismo de condottiere, e com ardor de um fauno.”
“Nunca esgota seu corpo; quando um desejo esta satisfeito, procura logo outro; seus nervos sempre estão despertos para o feminino; sua paixão, apesar de todas as dissipações mais terríveis, nunca esmorece, vive num eterno impulso.”
“Enfim, para ele nada há tão importante como a mulher, que coloca acima de todos os seus negócios, com o ímpeto torrencial e completo do seu ser. [...] Assim, para Casanova, o prazer de todos os prazeres é ver as mulheres felizes; vê-las entregues ao gozo, deliciosamente embriagadas de prazer, encantadas, sorridentes.”
“Amei loucamente as mulheres, mas sempre preferindo minha liberdade.”
Agora meus companheiros que chegaram até essa parte do texto, prestem atenção. Há agora uma passagem importante a ser descrita e que tem que ser muito bem interpretada.
“Seria inútil se os jovens quisessem aprender com esse mestre o segredo dos seus êxitos; em vão folheariam a maravilhosa ars amandi, que são suas Memórias. A arte de seduzir não se aprende nos livros, assim como de nada serve ler poemas para ser poeta. Nada se obteria estudando esse mestre, poos não há nenhuma tática, nenhum “truc” que lhe seja peculiar. Todo o seu segredo está na sinceridade do seu desejo e no modo de reagir da sua natureza passional.”
Após ler isso ficamos pensando “... de nada serve ler poemas para ser poeta.” Claro que não, para ser um sedutor tem que seduzir, só a leitura não te dará o que necessita. Casanova é um exemplo a ser seguido, é uma inspiração. O que o autor diz nesse trecho é que ele é simplesmente a personificação de seus desejos. O verdadeiro homem que todos buscamos ser.
“Casanova que nunca vai além do físico, pode facilmente manter o que prometia: prometeu prazer em troca de prazer, corpo ardente contra corpo ardente, e nunca deixou nas mulheres dúvidas sentimentais. Por isso elas não se consideram enganadas post festum.”
“Em certa ocasião deixa mesmo escapar uma frase perigosa: Então, compreendi, de um modo vago, que o amor talvez não fosse mais do que uma curiosidade mais ou menos viva.”