- 09 Jan 2012, 01:06
#505648
O diário do sedutor é o melhor tratado que conheço sobre a arte de seduzir.
Johannes faz do artifício para seduzir Cordélia uma forma de aperfeiçoamento estético e de exercício intelectual. Ele avalia, passo por passo, as estratégias (valoriza os estudos prévios, os ensaios), sustenta-se o tempo todo na elegância das palavras, não se deixa deslizar emocionalmente. Busca no que chama de "reflexão poética" o substrato do jogo de sedução.
Mas nem por isso deixa de assumir a sua condição de seduzido. Ele inclusive admite (no outro livro) que a mulher é a sedução mais poderosa do céu e da terra e que aprendeu com ela a arte de seduzir. O que ele fez foi intelectualizar essa arte, dar-lhe uma forma elaborada, calculada. É aí que entra a complexidade e a riqueza do livro. Johannes se feminiza, de certa maneira, para o exercício bem sucedido da sedução. Esse é o seu maior artifício e o seu maior segredo. Por isso nenhuma de suas manobras fracassa.
Ao contrário de Don Juan, ele vê a mulher como um sujeito e não se preocupa com a quantidade de suas conquistas, mas com a qualidade da sedução. O que importa para ele não é o fim, mas o processo e a reflexão crítica sobre esse processo.
Ele tinha consciência de que um sedutor devia possuir uma força que Don Juan, apesar de seus muitos dotes, não possuía: a força da palavra. O poder de jogar com a potencialidade enganadora da linguagem. O que, sabemos, Borges soube fazer com muita destreza e competência.
Penso que Baudrillard poderia ter ido mais longe em suas reflexões, a partir de Kierkegaard e do próprio Borges. Se ele tivesse feito uma leitura em contraponto do Diário do Sedutor, do Erotismo Musical (texto de Kierkegaard sobre a ópera Don Giovanni, de Mozart) e do discurso iluminador que Johannes, o Sedutor, profere no livro In vino veritas, ele teria se dado conta de que o autor dinamarquês já tinha antecipado muitas das idéias que ele, Baudrillard, tomou como sendo suas próprias.
FONTE : http://organizando-o-caos.amo puabase.com/2009/05/momento-literario-diario-de-um-sedutor.html
Johannes faz do artifício para seduzir Cordélia uma forma de aperfeiçoamento estético e de exercício intelectual. Ele avalia, passo por passo, as estratégias (valoriza os estudos prévios, os ensaios), sustenta-se o tempo todo na elegância das palavras, não se deixa deslizar emocionalmente. Busca no que chama de "reflexão poética" o substrato do jogo de sedução.
Mas nem por isso deixa de assumir a sua condição de seduzido. Ele inclusive admite (no outro livro) que a mulher é a sedução mais poderosa do céu e da terra e que aprendeu com ela a arte de seduzir. O que ele fez foi intelectualizar essa arte, dar-lhe uma forma elaborada, calculada. É aí que entra a complexidade e a riqueza do livro. Johannes se feminiza, de certa maneira, para o exercício bem sucedido da sedução. Esse é o seu maior artifício e o seu maior segredo. Por isso nenhuma de suas manobras fracassa.
Ao contrário de Don Juan, ele vê a mulher como um sujeito e não se preocupa com a quantidade de suas conquistas, mas com a qualidade da sedução. O que importa para ele não é o fim, mas o processo e a reflexão crítica sobre esse processo.
Ele tinha consciência de que um sedutor devia possuir uma força que Don Juan, apesar de seus muitos dotes, não possuía: a força da palavra. O poder de jogar com a potencialidade enganadora da linguagem. O que, sabemos, Borges soube fazer com muita destreza e competência.
Penso que Baudrillard poderia ter ido mais longe em suas reflexões, a partir de Kierkegaard e do próprio Borges. Se ele tivesse feito uma leitura em contraponto do Diário do Sedutor, do Erotismo Musical (texto de Kierkegaard sobre a ópera Don Giovanni, de Mozart) e do discurso iluminador que Johannes, o Sedutor, profere no livro In vino veritas, ele teria se dado conta de que o autor dinamarquês já tinha antecipado muitas das idéias que ele, Baudrillard, tomou como sendo suas próprias.
FONTE : http://organizando-o-caos.amo puabase.com/2009/05/momento-literario-diario-de-um-sedutor.html